quinta-feira, 8 de junho de 2017

PORTA

Quarenta e sete pessoas e grupos antes de você no feed do Whatsapp.

Lembro quando desejei muito que meu celular disparasse por uma variedade maior de pessoas. Agora que você silenciou, fica evidente como o meu desejo foi atendido. Eu fiz por onde e estou feliz por isso.

Gostaria de te mandar uma mensagem, chamar para conversar amanhã, talvez. Ma tô com dó de te subir na lista. Está tão conveniente você lá embaixo, longe dos meus olhos, difícil de encontrar.

Por outro lado, também não tenho certeza se quero conversar logo. Estou em dúvida sobre qual parte minha quer falar. Se é a que sente saudades ou a que quer te superar. Mas estou preocupada, curiosa e precisando de informações para poder seguir com mais clareza.

Nas inúmeras vezes em que revi nossa conversa, me deparei com minha última frase escrita para você: "a porta está aberta".

Foi assim que ela esteve todo o tempo do nosso relacionamento. Aberta, escancarada. Você tinha as chaves.

Agora, guardo comigo todas as possibilidades de abertura.

Então, gostaria de te dizer, ainda que não precise: a porta está fechada, babe.

E 47 é meu número da sorte.

terça-feira, 6 de junho de 2017

E NÃO

Tá doendo.

"Eu te amo e não dá mais para continuar".

Quando a sentença foi dita eu fiquei atordoada, a vista embaçou, o som abafou, senti o peito rasgar e o estomago embrulhar. Foi bem físico esse baque. Precisei me segurar.

Você tentou me dar a mão, mas eu não pude. Tive pavor de te tocar. Olhei profundamente para sua face e evitei mergulhar nos seus olhos. O que vi foi a tranquilidade de alguém que realizava uma escolha. Nunca estivemos tão dessintonizados como naquele momento. Ali eu vi que não adiantaria buscar soluções.

O que ficou foi um certo desespero e muita força para segurar a onda. Eu fui muito forte, preciso admitir... o máximo que pude. E eu ri, gargalhei. Acho que é minha forma de me liberar.

Depois daquilo o que me restam são flashs. De repente eu precisei agir. Quis correr com a dor, com o processo. Vi que você havia trazido minha guitarra. Catei tudo seu que me lembrei e coloquei em sacolas. Livros da estante, cujo vazio deixado foi imediatamente substituído. Estava até orgulhosa de mim.

Até que você lembrou do mais doloroso e perguntou: e as chaves? Quer de volta?. Eu levei um choque. Pus-me a retirar seu molho do meu chaveiro. Quando vi, estava tremendo muito quando te entreguei as chaves. Foi a visão mais triste da ocasião. Traumática, eu diria. A cena que mais gera lágrimas.

Você parecia fazer tudo como um ritual. Eu vi que você sacralizou a ocasião. Mas eu não pude, estava surpresa, atônita, concentrada muito mais em não desabar do que em viver o processo. Você perguntou se já deveria partir ou se eu queria que você ficasse mais um pouco.

Então eu lembrei de todas as vezes que você precisou deixar minha casa e eu te abracei com o desejo de que ficasse. Eu não pude te abraçar dessa vez porque meu desejo era o mesmo mas a situação era muito diferente. Eu não podia fazer isso, morri de medo. Me preservei. Mas aceitei que você ficasse um pouco mais.

Conversamos coisas que nem me lembro. Acho que disse que gostaria de enxergar o que você viu para terminar assim. Te perguntei como você conseguia estar tão tranquilo. Lembro de você dizer que nada mudou em relação a mim. Que você ainda me amava, que ainda me admirava e que continuava pensando as mesmas coisas de mim. Só a condição de namorados mudou. Tive raiva quando você disse isso. Porque para mim isso muda muita coisa.

Você me perguntou se eu queria manter contato, que me mandasse mensagens. Não lembro o que realmente respondi.

Quando você partiu e eu fechei a porta, fiquei anestesiada. Resolvi te ver da janela, de onde tantas vezes joguei beijos. Você acenou e eu não pude me mover. Você partiu. Não sei quanto tempo fiquei na janela, mas logo estava na cama chorando agarrada ao celular buscando algum resgate.

Depois de muitas conversas e chororôs noite adentro, desfaleci. Não sem antes tirar nossa foto de meu varal. Rasguei e joguei nem fundo no lixo. Não foi por raiva nem por vontade de apagar o passado. Sei que o retrato continua a salvo em algum arquivo digital. Foi por cuidado comigo mesma. Não queria mais a sua presença no dia seguinte.

Quando enfim acordei, abri o armário do banheiro e lá estava sua escova de dentes ao lado da minha. Joguei fora também, aceitando que ainda teria surpresas. Então caiu a ficha de que eu ainda teria que lidar com muitos outros vestígios, lembranças e encontros seus até o dia em que finalmente nada disso irá doer mais.

Agora, só tenho um mantra:
RESIGNAÇÃO  E REGENERAÇÃO.

terça-feira, 28 de março de 2017

PAIXÃO PRÓPRIA

Todo amor começa com uma paixão. Ao menos assim é mais fácil começar um relacionamento amoroso. Talvez uma maneira de cultivar o amor próprio seja o de se apaixonar por si mesma.

Sabe aqueles nossos relacionamentos em que é óbvio que existe amor mas a paixão parece ter deixado de existir? Existe respeito, paciência, companheirismo, carinho, confiança, atenção, todas essas importantes coisas sutis e “eternizadoras”. No entanto, falta aquele tesão, o brilho no olhar, aquela admiração estarrecedora, a capacidade de superlativar o que há de melhor e minimizar os defeitos, a exaltação das virtudes, a empolgação em descobrir, a dança da conquista, enfim, aquele prazer vívido. Pois é, encanto de menos pode confundir o amor.

É claro que os relacionamentos evoluem e a paixão se transforma, mas o encantamento, por mais consciente que seja (o ideal é que seja assim), deve estar presente. É o verniz do amor, a lubrificação da convivência, a leveza do aprendizado.

Então, ando teorizando que a construção do amor próprio deve começar pela “paixão própria”. Afinal, o que de mais prazeroso pode mover uma convivência do que a paixão?! Comecemos pelo “mundano” mesmo. Depois sublimemos com mais qualidade. Se percebo que ando deslizando na relação comigo mesma, a coisa está meio sem base e focada num amor que não sei bem de onde vem, é melhor plasmar esse relacionamento.

Sendo assim, declaro-me, e acho que inicio aqui uma série:

Paixões que gostaria de declarar a mim mesma

Adoro o seu jeito de sorrir para o mundo. Faz parecer que viver é bom. E para você é, com certeza. Esse seu jeito fica mais bonito quando eu sei que apesar do sorriso, existem sim dores, dificuldades, questionamentos, conflitos. Seu sorriso não quer dizer um dia bom. Quer dizer você mesma. E quando você ri, é para valer! Que ninguém te segure. Chatos aqueles que acham estranho. Agrada-me tanto quanto ri!!  

Você enrola tanto os cabelos. Quando o faz sei que está matutando. É uma conexão consigo mesma, e isso é lindo. Mas quando fixa o olhar aleatoriamente, parece que se transporta para outra dimensão. E é bem isso. É admirável essa capacidade! É tipo reiniciar a conexão!

Amo seus olhares profundos em quem fala contigo. Sei que quer doar sua inteira atenção para todos. Esse querer também é lindo. E seus olhos...  como dizem! Esse verde esperança quer agraciar tudo o que olha.

Adoro a sua necessidade de embelezar o lar. E os detalhes, só nós sabemos os porquês. A ordem dos livros nas prateleiras, os quadros escolhidos para as paredes. Tudo para te lembrar o que há de bom! E o quadro de giz... brilhantemente te norteia. A rede que te acolhe, o mapa mundi que te chama! O varal de fotos que te lembra os belos lugares por onde passou e as amizades que conquistou. Lindo o valor que entrega a tudo isso.

E as plantinhas? São a necessidade de vida em sua casa. Amo quando você se sente feliz ao vê-las. Admira verdadeiramente seu perfume e beleza, se alegra quando estão mais belas, e agradece quando as colhe e as come.

Mas, na sua casa nada te acende mais do que aquele prisma cheio de água na janela. Bate o sol e entra o arco-íris. Genial!! Você vira luz também e transpira alegria, amor e gratidão. 

O seu cantinho de trabalho e de estudo... Foi palco de algumas produções fantásticas e isso me faz ter certeza que dali sairá muito mais! Poucas coisas são tão harmoniosas quanto você sentada escrevendo. Que você escreva mais, pois o mundo merece essa manifestação.

continua...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

ONDA EM MIM

Tenho uma onda em mim,
que cresce para quando chegar,
Varrer tudo o que não for forte
para ficar
Ou o que não for leve
para emergir.

SINAIS DE DENTRO

Ando desejando te controlar e tomar-te para mim. Bradar que você me pertence. 
Mas não quero isso não. Vai contra meu caminho natural, de liberdade e amor.
Então me pergunto o que mesmo eu ando precisando controlar em mim? De qual parte minha preciso me apossar? O que em mim está abandonada, sendo trocada? O que estou com medo de perder, realmente?

Isso foi a filosofia que me ensinou... um pouquinho de psicanálise, de espiritualidade, de caminhos do autoconhecimento. Conhecer a si mesmo é isso. 
E, vou contar. Nesse momento eu ainda não tenho a clareza do que realmente está se passando aqui dentro. Mas só de ter esse insight, perceber essa direção de que a causa de tudo não está lá, mas dentro, consigo me centrar um pouco. E assim, evitar cargas desnecessárias em você. Gastar energia no lugar errado, da forma errada. 

Você não é meu, nunca será. E eu não quero que sejas. Eu também não sou de ninguém, nunca serei. É assim que quero prosseguir, pois só assim o verdadeiro amor flui... E tem fluído muito bem. Por isso tenho a chance de alcançar certas percepções. Gratidão!!!

SONHEI CONTIGO

Sonhei contigo essa noite. Não que isso seja novidade. Você sempre permeou meus pensamentos e sonhos, mesmo que isso seja relativo. Sinto que ainda aprendo com você e com o que vivemos, com o que senti. Mas não precisa se enaltecer, pois não é o único nesse posto. Você, entretanto, foi especialista - para não dizer especial -  em certos aspectos que hoje preciso trabalhar melhor em mim. Acho que foi sobre isso o sonho.

Me vi contando contigo, esperando uma consideração básica que nunca chegou. Bem como no passado real: esperei muito de você pois vislumbrei uma profundidade tamanha que o desejo de mergulhar e me afogar foi imediata. Mas você se fechava da maneira mais fria que podia. Uma grande contradição. Nunca encontrei o caminho da sua escuridão linda porque nunca quis desbravar seu labirinto espinhoso. Talvez por medo de me machucar... mas o medo mais provável foi o de modificar seu perigo. 

Não importa qual medo impediu que eu forçasse, eu me machuquei mesmo assim... E eu não tinha que forçar nada mesmo. Era trabalho seu abrir seus muros na medida em que sentisse minha busca. Mas eu sempre me deparei com uma cilada. E quando tentava desistir, você dava esperanças. Hoje, acredito que essas esperanças eram para você mesmo. Eu, espelho tolo, ao invés de refletir, absorvi. Espero que o final tenha lhe servido de lição. Ou não.  

Você pareceu amor.
Você pareceu caminho.
Você pareceu correnteza.
Mas você foi porta fechada.
Foi telefone desligado.
Foi ausência.
Você pareceu amor - e, para mim, até foi (e do mais intenso),
Mas você foi cilada:
Assim mesmo, bem clichê
ao contrário da nossa história 
que ainda se desemaranha na minha memória.  

Nas mais rasas definições de relações platônicas que existem, você é o que se enquadra mais profundamente. É lindo no sonho desperto, flui harmônico como uma sinfonia, seduz a entrega... Inspira poesia. É romantismo. Mas a aproximação é frustrante... Talvez como, mas não tanto quanto, uma pintura impressionista: à distância, aquela beleza intocável. Ao aproximar, perde-se. 

Na real, eu gosto de ver de perto esse tipo de obra. Cada pincelada. Relevos únicos, marcas eternas com combinações sublimes de cores. A beleza está ali, como quase um acaso, posso senti-la a centímetros de minhas vistas, posso até tocar os detalhes. Mas o todo está desfeito. 

Nunca pude exigir que fosses menos ou mais. Você era aquilo. E se eu te exergo hoje como uma pintura impressionista, tenho consciência que foi invenção minha. Mas, o fato, é que para eu te admirar tal como és, preciso de distância. A medida atual está de bom tamanho - talvez um pouco mais próximo seria melhor. E vai ser assim que vou te amar para sempre: à distância; eu aqui, você no passado presente. 



Like the color blue

I feel like de color blue. Indeed. I do. But I'd never understand why the common sense see this color like something sad. For me, the blue is so sweet, soft... like an inner happiness. I'm blue... and it means I'm so happy and grateful to be alive. Thanks blue sky, blue sea, blue flowers and birds, blue world! That's the color of life. Stop saying it's sad. You know nothing. Blue kisses.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

PAREDES FALSAS

Hoje, sonhei que as paredes do meu apartamento estragavam. Comecei a perceber a tinta saindo em alguns lugares e sinais de infiltrações. No meio da sala, notei que havia uma parede falsa. Era como se antigamente houvesse uma porta ali, que dava para o apartamento vizinho. Durante a reforma, ao invés de completarem a parede, fecharam a porta com um tapume e depois pintaram por cima. Moro lá há quase um ano e ainda não tinha notado o emendo descarado, pensei. Decidi que era hora de consertar tudo de verdade... mesmo naquela semana cheia de outras coisas pra fazer.

O que me impressionou nesse sonho não foi o enredo, mas cada uma das sensações que tive. Me senti enganada e culpada quando percebi o que acontecia, pois falhei ao não perceber a qualidade péssima da parede. Depois, me senti assustada com o fato de haver uma porta atrás da parede falsa. Quando a vi, primeiro temi que ela abrisse. Depois, senti curiosidade, vontade e coragem de rodar a maçaneta. Quando a abri, fiquei na defensiva e observando atentamente. Era o apartamento ao lado. Percebi que daquele lado a porta nunca havia sido escondida. Ou seja,  quem ali morava nunca tentou abrir a porta e, se abrisse, via apenas uma fina parede.

Eu  não entrei no apartamento e me apressei em fechar a porta, movida por um senso de ética. Então senti medo, pois percebi que estive o tempo inteiro vulnerável a quem morasse ali. Bastava a pessoa querer romper a divisória com um martelo e estaria dentro da minha casa. Ou então,  poderia ter feito um furo para me observar sem que eu soubesse. Me senti invadida, mesmo sem saber se algo tinha ocorrido.

Tive uma sensação que não sei nomear, mas que posso descrever como algo gelado por dentro. Frio na barriga? Não,  isso eu sinto quando estou prestes a despencar do alto em busca de adrenalina, correndo o mínimo risco de morrer. O gelo que senti aconteceu por um medo do passado, não do futuro. Foi um sentimento de não ter sabido quando acontecia algo terrível contra mim. E uma frustração por não ter evitado.

Entre tantos pensamentos e sensações, no fim prevaleceu a disposição de agir em relação a tudo aquilo. Primeiro mandar consertar e em seguida tirar satisfações com o locatário, a imobiliária e a pessoa que morasse ao lado. Imaginava como seria bom ver os tijolos erguerem uma parede de verdade ao lugar da falsa. Seria ótimo ver os vazamentos sanados e, depois, tudo muito bem pintado com a tinta e cor que eu escolhesse. Me empolguei com a possibilidade que surgiu. Então o sonho acabou.

Dizem que nossa casa, no sonho, reflete a nossa morada interior, a nossa personalidade. Então, as paredes que soube seriam os meus limites, o que constitui a minha vida. Descobrir que elas foram falsamente consertadas ou que foram mal acabadas, me chamam a atenção pois me parece uma revelação de que preciso reconstruir alguns aspectos. Algo me diz que fui eu mesma que me enganei e busquei soluções paliativas. Quanto a porta que leva à casa vizinha, posso imaginar que seja justamente a abertura para o outro... Talvez eu não confie de verdade nas pessoas e arrume artifícios frágeis para evitar o contato... e tema que a pessoa perceba o limite de araque e o viole para me fazer mal. Será?

Não me esqueço a primeira vez que sonhei com esse meu apartamento. Marcou porque foi como a comprovação de que eu estava em casa de verdade. Mudar para esse apartamento foi muito simbólico para mim. Foi o fim de uma fase importante e o começo da nova.

Apesar de gostar de dinâmica no dia a dia, é árduo para mim finalizar ciclos grandes. Eu postergo e levo situações ao nível do insuportável para, só então, fazer muita força para sair. Se, por um lado isso prolonga a dor e gera outras dores desnecessárias, por outro, inconscientemente acho que levar as coisas até o extremo evita uma queda extrema. Que paradoxo.

Começar,  para mim é mais leve. Não é fácil,  mas tenho muita disposição e alegria. Consigo me conectar rapidamente com o que quero e realizo, quase como o mágica. Simples e empolgante.

Faz quase um ano que moro nesse apartamento. Isso significa que não estou mais tão no começo assim. Faz quase um ano que mudei minha dinâmica de vida e isso significa que o começo está ficando no passado. Mas, esse sonho e os sinais da vida me mostram que tudo é impermanente e que,  querendo ou não,  podemos e devemos sempre começar. Sempre existe algo dentro de nós e no mundo que precisamos revisar, melhorar, resolver, descobrir,  aprender, questionar. Não adianta maquiar questões que o acaso nos traz, pois elas aparecem mais tarde exigindo urgência.

A ideia de que podemos ter mais começos na vida me seduz muito. Se as coisas funcionam bem comigo nos começos, seria muito bom se isso acontecesse com mais frequência. Logo, se quero ter mais começos,  tenho que aprender a ter mais fins.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

AMOR-ALVORADA

Eu não quero precisar de você para conseguir dormir tranquilamente,
Nem necessitar do seu impulso para acordar.
Não quero que você seja a única razão de eu providenciar algo interessante para o jantar,
Nem que o fato de ficar nua na sua frente seja a pressão para voltar à academia.

Não quero precisar de você para nada que tenha algo de claramente útil.
Até mesmo as utilidades subjetivas são indignas demais para o que quero viver contigo.
Pois não quero que sejas o responsável por apaziguar minhas carências,
Nem por preencher esse vazio insustentável que por vezes me tira o equilíbrio.

Não quero precisar de você para saber que sou merecedora de atenção,
Nem para me sentir desejada e em paz comigo mesma.
Não quero que você seja rotina, coisa comum em meus primeiros e últimos pensamentos,
Nem que a expectativa de te ter seja alcançada previsivelmente.

Eu quero que você seja a exceção dos meus dias,
Aquela presença excepcional que inspira novidades.
Quero que você ajude a compor alvoradas na minha vida:
aquela impermanência de cores, sol brilhante de calor ameno,
passarinhos que escutamos sem ver e que nos surpreendem
em vôos entrelaçados antes de sumirem de vista.

Eu quero que você sustente incondicionalidades que quero despertar em mim.
Eu quero saber sustentar incondicionalidades que me despertam para você.

Evitei dizer até aqui, mas tudo o que quero sentir por você é amor.
E isso me amedronta porque se eu sentir amor, vou querer ser amada.

Eu só aprendi a amar se minhas necessidades fossem satisfeitas.
Com toda a cortesia dos romances: declarações, comidinhas, flores,
elogios, desejo, dedicação, prioridade, presença.

Mas, por você, quero amar incondicionalmente.
Com toda a sutileza do espírito: liberdade, interseções, afinidades,
energia, elevação, eternidade, gratidão, ligação.

Eu quero amar assim porque ao experimentar o infinito dos seus olhos,
ou ao fechar os meus em sua presença,
intuo a Verdade e me sublimo.

Nosso encontro me enaltece tanto,
tanto que quero me desfazer de tudo o que prende,
de tudo o que condiciona o ser e as relações.

Mas, e se apenas ao pretender o alcance de um amor incondicional
eu já estiver condicionando?!

E se eu não souber satisfazer todas as minhas necessidades sozinha
e precisar de você para me trazer segurança?
E se eu precisar de você para dizer com frequência que me ama,
que me quer, que sou linda, que ocupo seus pensamentos?
E se eu precisar de você para me abraçar sem contenções de força e de tempo,
e me beijar longamente cheio de tesão sempre que tiver a chance?

E se eu precisar de você para desaguar todo o amor denso que produzo dentro de mim
e que posso não saber canalizar para outro canto... Você vai se sufocar?
E se eu precisar de você para me acompanhar em muitos do vários planos que tenho
de viagens e experiências estranhas... Você vai se pressionar?
E se eu precisar de você para me ajudar a não subestimar minhas necessidades
e entender que ainda tenho muito o que aprender... Você vai se decepcionar?

Eu não quero precisar de você.
Mas e se eu precisar?

Idealizo... Mas será que você vai me amar de algum jeito que eu sinta?
E será que o amor que eu te der será suficiente?
Vai sobrar?
Vai faltar?

Idealizo exaltações,
mas logo me deparo com as profundezas terrenas:
Assim como o pássaro que carrega a âncora,
gravados em minha perna;
assim como o ser dividido entre o quaternário
e a tríade superior.

...

Amar assim me deixa tão vulnerável...
You're so fucking special...
But I'm a creep.

terça-feira, 28 de julho de 2015

IN

INSEGURANÇA é o que mais define essa minha parte com a qual venho travando embates ao logo dos últimos dias. Essa parte, além de insegura, é medrosa e culpada. Quando surge na mente, enfraquece o meu verdadeiro âmago e faz com que eu seja menos eu.
FRAUDE é quando eu sou menos eu. É como eu me sinto quando não faço o que eu me designo a fazer. E é assim que a minha parte insegura me faz sentir quando me assombra. 

Ultimamente, tenho me sentido uma fraude, pois não tenho realizado nada de concreto. Todos os planos, adiados, e os dias têm passado praticamente em branco. Entretanto, esses tempos não foram completamente inúteis principalmente porque resolvi encarar esse lado sombrio, ao invés de camuflá-lo com desculpas para mim mesma e esperar que, por alguma razão do destino, ele se esconda de novo. 

Na medida em que olho para dentro da minha fraude, da minha insegurança, do meu medo, da minha culpa, entendo-me um pouco melhor. Entendo que, muitas vezes, essas sensações provocam umas às outras, criando círculos entrecortados de influência.

Por exemplo, se estou em uma situação de fraude hoje, foi porque um velho medo mal resolvido ativou a minha insegurança, que me travou os movimentos. E uma vez travada, me sinto culpada por não cumprir o que deveria... E, logo, sinto-me mais insegura ainda para fazer outras coisas e aí surge alguma consequência prática que me derruba mais ainda... Assim vai.

Então, tenho me perguntado o por quê disso tudo. De questionamento em questionamento, às vezes encontro alguma respostinha que vai me ajudando a dominar meus caminhos.
Conforme entendo essas pequenas porções, simultaneamente experimento maneiras de quebrar o padrão na prática e, assim, fazer a vida continuar a andar como der. Importante mesmo é não parar.  

[Temo estar encontrando perguntas demais e perdendo a poesia.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

LEMBRA

Poeminha que me lembra um grande amor dessa vida.

"Sobre cada lugar se sobrepõe 
a experiência do lugar 
como um selo num cartão-postal
Por exemplo hoje 
sempre que sobrevoo São Paulo 
penso que em algum apartamento 
desta cidade interminável 
você fumando de óculos 
exerce seu direito inalienável
de não mais pensar em mim"

[Ana Martins Marques. Da arte das armadilhas.]

sábado, 6 de junho de 2015

Nowhere. Now here.

Faz uma semana que entrei em meu novo lar. Um pequeno apartamento de um quarto, encontrado depois de muitas buscas. Entrei aqui cheia de sentimentos irradiantes, daqueles que nos alcançam quando nos deparamos com a liberdade diante de nós e reparamos como ela é linda e perigosa.

Até então, eu tinha surfado mais em sua beleza... mas hoje estou passeando pelos abismos que a liberdade proporciona. Eu tinha imaginado esses momentos antes de sair da zona onde estava desconfortavelmente acomodada... E foi a imaginação de instantes como esse que me fez pensar muitas vezes se valia a pena arriscar. "Tudo vale a pena se a alma não é pequena", disse Pessoa. Como sentia ter uma alma grande, mas oprimida numa situação que perdeu o sentido, resolvi abrir mão do que eu tinha.

Eu perdi a companhia de cama que me permitia dormir tranquilamente no escuro - eu tenho medo de dormir sozinha à noite com a luz acesa... com a luz apagada é impossível. Ninguém mais vai me acordar para coisa alguma. Seja para ir ao parque caminhar, ou para cumprir com alguma responsabilidade, ou para providenciar algo para comer e beber depois de uma noite de bebedeira.

Eu ganhei a chance de acordar quando e como bem entender. Ganhei a oportunidade de lidar com meus medos... e isso não tem sido um total desastre a partir do ponto de vista que estou sobrevivendo hehe. Mas simplesmente não tenho conseguido dormir antes das 4h da manhã. Tentei acordar cedo, mesmo tendo dormido pouco. Mas a verdade é que virei uma zumbi cafeinada, então preferi voltar a ser apenas uma notívaga, por enquanto. Eu ganhei também a oportunidade de planejar meus dias como eu bem quisesse. E é estranho quando temos o poder todo em nossas mãos, isso também dá medo.

Bom, a verdade é que personifico a corajosa, enquanto sou uma cheia de medos. Agora que escrevi, isso até faz sentido! O que mais eu poderia ser diante de tantos temores e fraquezas? Só sendo corajosa para viver. Já diria Guimarães Rosa: "o que ela [a vida] quer da gente é coragem".

Eu perdi muitas outras coisas, momentos, situações, status, dinâmica, rotina... perdi tudo o que não era somente meu. Me restou somente o que é meu e eu ainda não conheço a real dimensão disso. Acho que a missão de agora em diante é descobrir, escavar meu mundo interior e colocar as coisas no lugar. É um trabalho eterno, certamente, mas agora é como se fosse um novo começo. Agora, estou vendo toda essa bagunça onde consigo enxergar algumas coisas, imaginar outras e onde me perco e, no desespero, procuro uma saída, olhando para trás.

Escrever é como me centrar novamente, voltar aos eixos da razão e das emoções. E eu fiz isso tão pouco nos últimos tempos... Estava ocupada vivendo, sentindo, e não me preocupei em esclarecer, colocar as coisas em seus lugares. Isso foi um erro. Mas aquele tempo foi muito bom sim. Foi lindo, memorável, um amor sem precedentes (agora estou eu de novo com os olhos marejados). Chegamos às últimas consequências. Isso, um amor levado às últimas consequências. Sou muito, muito grata. E me entristeço porque acabou, não porque não tenho mais. Aquilo não existe mais, simples. Teve começo, meio e fim. E, apesar das coisas na vida serem assim, é impossível passar ilesa.

Acho que me concentrei tanto no lado positivo dessa mudança, que convenci a todos e quase me convenci, que tudo estava lindo. Só notei que as coisas não iam tão bem assim quando percebi que estava tomando banho raramente, que meu cabelo estava um lixo de oleoso, usava as mesmas roupas sempre, minha alimentação estava uma porcaria, minha cara cheia de espinhas, as unhas, sobrancelhas e depilação por fazer. Dai, para completar, dormi e sonhei que chorava até molhar meu apartamento todo. É, vi que não estava fácil. Bom, parte disso ainda é realidade, mas acho que começamos a mudar as coisas depois que percebemos.

Interessante que eu ainda me espanto como  a vida é um grande ciclo cheio de pequenos ciclos. De repente tudo estava no auge: apartamento encontrado, burocracias vencidas, a pós-graduação tão desejada que iniciou, o êxito no contato rotineiro com minha espiritualidade, pequenas realizações cotidianas como ir ao parque sozinha para deitar na toalha e ler um livro procrastinado, ou conseguir minar a vergonha de falar em público. Foi só notar que tudo estava indo para o infinito e além bem rápido que as coisas deram uma decaída. C'est la vie... ou "that's the way life goes", frase que minha "mãe" italiana-canadense deixou gravada em minha memória.

Enfim, isso tudo faz apenas uma semana, ou um pouco mais que isso. Mal posso esperar pelos próximos tempos. Venha o que precisar. Enquanto isso, vou aproveitar cada oportunidade para crescer. É um momento único para mim. Agora sou a Marina avulsa. E tenho a missão de permanecer assim por um bom tempo, resistindo às tentações de amar e me envolver com alguém de maneira tão profunda que faça nossas vidas se confundirem na mesma engrenagem que, de repente, pára de funcionar porque eu perdi meu "timing".

Agora, "alis volat propiis".

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Por mais de um mês

Desejo insistente de liberdade. Pelo menos é o nome que dei para o que busco diariamente em meus sonhos acordados. Historinhas que surgem na mente em momentos de ócio ou quando me perco na paisagem que passa na janela do carro. Surgem e martelam, não me largam. Serão fantasias do ego ou mensagens do subconsciente? Sinais da intuição?


Por mais de um mês, me alimentei desse desejo de catar as minhas coisas, determinar o que é meu e o que é dele, encontrar um canto para morar sozinha. Pintar paredes das cores que quiser, fazer compras sem pedir opinião, pensar só em mim. Chamar as amigas para casa, fazer guacamole e tomar vinho. Planejar um mochilão pra Machu Picchu sozinha... Eu sempre quis ir ao Peru. Ficar em albergues, conhecer estrangeiros, praticar o espanhol, o inglês e a sociabilidade, como já experimentei algumas vezes. Ir aos shows que bem entender, não perder exposições, assistir à uma peça... Nossa, quanto tempo não vou ao teatro! Passar horas na livraria e encontrar respostas. Conhecer gente. Gente interessante, gente diferente, gente besta, gente que vai abrir a minha mente. Viajar no fim de semana com a grana que sobrou, escolher um destino qualquer e me jogar nas possibilidades, como era de costume. 

Por mais de um mês, tenho sofrido fisicamente. Meu corpo somatizou a agonia de não realizar o desejo da alma. Dor de cabeça, tontura, enjoo, pressão baixa, indisposição, pesadelos, fantasmas. Estaria grávida? Não. Menstruei e mal trepei. Câncer? Deficiência hormonal? Calor? Depressão? Nada. Só uma espécie de labirintite emocional que começa a ser curada com quatro comprimidos por dia e tentativas loucas de fazer a escolha certa. 

Em cima do muro

Por mais de dois meses discutimos. Logo nós dois super conectados, entrosados. Um casal de passarinhos voando lado a lado na mesma direção. Mas coisas que magoam foram acontecendo e se repetindo, até que murchou tudo. Nunca seria a mesma depois daqueles episódios pesados de choros de terror às 4h da manhã, em que prometi a mim mesma que sairia desse relacionamento. Dei um ultimato, exigi melhoras dele. E pior que ele cumpriu. Melhorou em tudo, virou o cara digno de continuar fazendo parte da minha vida. Eu que não voltei ao normal. E estou convencida de que nunca voltarei. O relacionamento murchou dentro de mim e ainda não tive fôlego para inflá-lo novamente.

Na medida em que o relacionamento murchava, cresceu dentro de mim esses desejos de liberdade, independência. Nossa, escrevendo assim parece que a solução é simples: Encerrar esse relacionamento que parece não fazer mais sentido e ir buscar a mim mesma. Seria simples se não fossem as emoções múltiplas que nunca sei ignorar e que jogam o "buraco" lá pros confins de baixo.

É nesse ponto da história em que entram as tentativas loucas de fazer a escolha certa. Acredito, sinto, que o amo. O vejo e dá vontade de abraçar, apertar, beijar, levar pra casa. Isso apesar de o desejo sexual por ele ainda não ter voltado à tona. Constato como ele têm sido um bom companheiro com a mania de fazer surpresas fofas, se importar com o que quero, reparar em mim, botar filminho para assistir, dar boa ideias, ser tão trabalhador, interessado em evoluir, estudioso, cheio de disciplina... Aquele cara que gera um relacionamento em que posso "investir" e que, certamente, frutos surgirão. Sei disso pois foi assim nos nossos tempos áureos. 

Quando começamos a nos envolver não conseguíamos nos largar. Eu ficava mais na casa dele do que na minha. Preferia dormir naquele colchão de casal dele horrível e sem roupa de cama do que no meu colchão de solteiro ortopédico novinho, com lençóis de boa qualidade, cheirosos e na estampa que eu havia escolhido. Amontoava minhas roupas nas duas gavetas que ele havia me cedido na maior felicidade. Ele e deu escova de dentes... e logo eu tinha também desodorante, absorventes e o kit completo de banho. Fazia trabalhos da faculdade na casa dele, mesmo que ele não estivesse lá. Ele me deu também um pouco de disciplina para fazer meu TCC. Cuidou de mim incontáveis vezes em que fiquei doente. Cuidou mesmo, com carinho, sopinha, remedinhos, chazinhos, banhos. Cuidou sempre... Me carregou escada acima quando torci o pé e me consolou nas derrotas. Isso até sem morar junto, apenas me acolhendo no seu espaço. Eu demorei um ano para aceitar a proposta de morarmos juntos de verdade. Depois, vivemos sob o mesmo teto por um lindo ano, na perfeição da imperfeição. No ano seguinte, partimos juntos para viver em Dublin. Não deu certo e voltamos um semestre depois. Estamos vivendo juntos há mais uns oito meses no Brasil. Será que foi aí que começamos a desandar? Sei lá.

Mas é o amor que sinto por ele hoje e toda essa história que construímos que me deixa em cima do muro nesse momento em que preciso decidir entre permanecer no relacionamento ou seguir minha vida. O caminho mais difícil não é tão óbvio assim. Pois permanecer no relacionamento como está, não dá... é infelicidade, doença. Ir viver minha vida avulsa certamente é um caminho com pedras e espinhos que exigirá força, coragem e amor (o qual, até então, tem sido mais importante o que sinto por ele). 

O terceiro caminho

Então, tento criar uma terceira possibilidade, uma alternativa... Eu amo os caminhos tortos e alternativos. E se eu conseguir renovar totalmente meu relacionamento? Criar uma nova vida a dois, em que eu me possibilite vivenciar minhas liberdades e o autoconhecimento? Será que consigo ter as duas coisas? Será que terei amor suficiente para tudo isso?

Enfim, será que inventei esse terceiro caminho para fugir da responsabilidade de escolher? Ou não? Sempre acredito que a vida pode ser mais fácil... 

Que dilema tenso. Tenso e urgente, pois estamos na iminência (tipo amanhã) de mudar de apto. Deixar esse e ir para nosso apartamento anterior, maior e próprio (dele). 

Enquanto não consigo me resolver totalmente, aposto nesse terceiro caminho, esperando algum milagre do tempo ou algum vacilo dele. 

Sinto-me covarde. 

Por isso o choro

Eu costumava chorar com mais facilidade. Era um momento quase diário. Não falo de depressões, dos dias obscuros como poços úmidos, frios e fétidos. Mas de passados lúcidos em que eu confrontava meus sentimentos com mais naturalidade. Por isso o choro.
Acho que endureci. Temo levar as coisas de forma pífia demais.

Post de 2011 também. Um rascunho que resolvi publicar pela surpresa. Realmente o choro esteve raro. Mas nos últimos dias é uma constância. Vale a publicação.

O VIZINHO


Comunicação com o mundo. O vizinho da frente, o ET, a luminaria roots, o pc na frente da janela. Sobre como não o reconheria na rua, sem suas duas janelas.
A conta que chegou com seu nome.


Post de 2011, que deixei por fazer como tantos outros. Me trouxe memórias, senti poesia, resolvi postar.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Volto a escrever neste blog como quem volta a si. Apesar de te-la escrito, acho um tanto pretenciosa esta primeira frase. Depois de tanta inconstância, não deveria me arriscar a afirmar ladainhas. Voltar a mim, como assim? Até parece que de agora em diante tudo será diferente, como tantas vezes bradei por aqui. Não resolvi meus conflitos; não tenho os dois pés no chão. E ainda não sei como lidar com isso. Na verdade, agora, não sei nem se preciso lidar. Começo a achar que é tudo uma questão mudar a dinâmica.

É fato que apesar de nem tudo ter mudado nas milhares de vezes em que pretendi isso, pequenas transformações foram feitas. Já vale. Não que eu seja de me contentar com pouco - é relativo -, mas as sutilezas são poderosas. A conclusão do momento é que a contradição, as dúvidas profundas e rasas, a errância e a persistência nisso tudo fazem parte de cantos obscuros (ou não) de meu ser: a sombra.

Meu lance agora é a luz. As perguntas em busca de afirmações... uma constante afirmação de si, renovável. Foco na velocidade do ciclo, para que os altos e baixos da vida passem tão rápido e nos deixe de resultado o equilíbrio.

A promoção do equilíbrio acontece quando deparamos a luz e a sombra de nós mesmos e fazemos surgir desta relação a essência da nossa verdade mais pura para a nossa metamorfose. Na relação entre luz e sombra, no entanto, deve se estabelecer uma troca, uma conexão entre suas energias, entre o que há de substancial/ orgânico/ subconsciente/ vibracional dos nossos pólos.Ou seja, é necessária uma sabedoria sensorial para que o equilíbrio dos nossos lados ocorra.




E é neste ponto que estou. No início da experiência de girar a vida pelos meus atos... e a busca pela essência das minhas vontades é a principal engrenagem para atingir o centro.





quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SOBRE AMANHECER I

A lembrança mais simbólica deste ciclo que começa é aquela janela aberta. Algumas vezes, entre sua moldura, vi o azul da noite clarear com os raios de sol, em dias que já nasciam quentes. Sempre que meu instinto pediu, coloquei o corpo para fora do apartamento e senti a luz nova entrar pela pele. Fechei os olhos e enxerguei a claridade ultrapassar as pálpebras. Ao mesmo tempo, senti a brisa fria soprar os cabelos e o rosto, e chegar aos pulmões, refrescando o corpo por dentro.
Não sei dizer se foi a situação ou nós que variamos em cada uma dessas vezes. Mas sei que o sentido de tudo aquilo foi o mesmo desde o começo. Diversificou-se a cada repetição. Multiplicou-se. Dividiu-se e somou-se.

domingo, 19 de junho de 2011

BOLERO RADICAL

- Ele não me ligou, Julio...
- E vc vai ligar?
- ... Não! Vc acha que eu devo ligar?
Julio nega com a cabeça.
- Ele que tem que ligar, oras... E se.. ele estiver pensando a mesma coisa??... Mas ele não está pensando, né...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

NÓS

A luta mais dolorosa é contra a repressão. Sim, esta frase é um tanto clichê... e essa outra também. Mas, vai ver, a busca pela liberdade virou padrão. Provavelmente cada um enxerga muros diferentes para transpor, destruir ou encarar... ser livre tem níveis diferentes. Para mim, a busca por libertar é um constante confronto contra a repressão. Mas contra a minha própria, recípocra.

Para libertar é preciso reprimir o desejo de repressão. Não sei quanto aos outros, mas às vezes me pego dominada pela vontade do poder da imposição. "Você VAI fazer isso porque EU quero, ou se não...".


É difícil conviver e ao mesmo tempo nos libertar dos outros. Viver sua liberdade até onde começa a do próximo. Pois queremos extender, ter o controle sobre a nossa vida e também sobre todas as outras vidas convergentes à nossa. Porque não queremos que nos machuque. Queremos nossas vontades pelo outro satisfeitas, nossas carências apaziguadas até o limite, à nossa maneira. Porque não sabemos ser felizes machucados, insatisfeitos, carentes... Queremos correr riscos com margens de segurança. No entanto, essa margem é um tanto sutil, pois é baseada na fragilidade da confiança.

A confiança no externo, no outro, talvez nunca chegue a ser sólida. Mas a autoconfiança, não. Essa pode ser uma rocha. Quando não a temos firme, buscamos a do outro. Imploramos, exigimos, mendigamos, para ouvirmos "você pode confiar em mim, você é tudo". Ok, não serei tão dura. Todos temos momentos fracos e é confortante ouvir isso de alguém que admiramos. Mas há outra linha tênue entre um momento de necessidade e a dependência.

Quando não há o controle de si sobre si, não se faz escolhas. Não há rumos. não há meta. direção. vitória. conclusão. Liberdade é ter o controle sobre si; e a paz da consciência de não poder controlar o alheio.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

SOMENTE SÓ

Sentou por perto. Preferiu o chão, ficar com as pernas suspensas entre a margem de concreto e a água turva do lago. Eu também quis tirar os pés do chão. Havia sentado sobre a mesa com as pernas cruzadas, como quem levita.

Tínhamos em comum apenas a solidão. Fazia parte da dele uma garrafa de cerveja... deve ter comprado num quiosque do parque. Sua roupa não combinava com uma tarde de domingo. Tão social e formal. Seja como for, ela não importava mais. Não ligou em sujar de terra a calça clara. Deve ter chegado de alguma obrigação.

Eu também não me importava. Meu mundo era apenas a música nos ouvidos e o ardente pôr-do-sol que acontecia. Não tinha a intenção de contemplá-lo hoje, quando sai de casa. Eu só queria correr, suar, respirar. Mas não hesitei em ficar quando vi o céu tão brilhante.

Ainda muitas pessoas conservam o costume bucólico de parar e esperar o tempo do crepúsculo. No local, havia famílias e casais, vários casais. Talvez por isso a chegada dele tenha me chamado a atenção. Não que a pluralidade dos outros me ofendesse, mas constatei que minha solidão não era solitária.

Solidão a gente até pode compartilhar. Não foi o caso, claro. Isso a gente divide com quem suporta o nosso silêncio. Com o dono dos olhos que sabemos encarar com conforto. Ou por quem nos sabemos olhados mesmo sem ver. Solidão compartilhada com estranhos geralmente é tão constrangedora que deixa de ser solidão.

Éramos dois sozinhos na solidão. Estranhos, incomuns, ninguéns. Mas soubemos que a solidão não era um privilégio ou um fardo exclusivo.


sexta-feira, 6 de maio de 2011

VOA VOA

Exército alado de papel

Dores desabrochadas
Desejos dobrados pela esperança
Alívio palpável
Persistência, paciência
Busca pela leveza
Que tudo bata asas
um dia...






terça-feira, 3 de maio de 2011

tento alcançar
não saio do lugar

o caminho é sempre em frente
no presente

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OU NÃO.

Podemos nos acostumar a qualquer vida. Algumas vezes podemos escolher, outras, é o acaso que nos escolhe. Acontece.

Acostumar, no entanto, não é estagnar, se submeter, render. Não é ignorar. Pode até ser se acomodar, afinal, é preciso um pouco disso; de uma certa paz, um momento de conforto.
Seria alcançar uma convivência saudável... O que não significa buscar um meio termo para o todo. Ninguém merece uma vida morna.

Acostumar é conseguir focar nos melhores termos. Assim, amansamos as dores e vivemos as emoções com o furor que cada uma demanda.

Acostumar depende de atitudes constantes. Pois a inércia é um costume da não-vida. É submissão. Aceitar empurrar pedras montanha acima e eternamente vê-las rolar montanha abaixo. Não se acostumar é viver num inferno grego. É infrutífero.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Apenas uma janela sem estrelas...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

FOGO

É preciso conhecer de queimaduras para jogar com o fogo. Por isso que muleques bem doutrinados devem manter-se longe. Quando um arrisca se aproximar da chama, incendeia até virar cinzas ou sai assustado com o calor.

Chegou aos vinte e poucos sem nunca ter gostado de comer alguma mulher. Duvidou da própria masculinidade, pensou que era bicha. Até cogitou experimentar outra fruta... Mas se endurecia todo com qualquer bunda em pé que passasse, com toda voz feminina que sussurrasse em seu ouvido ou com um toque mais delicado em sua nuca. Por homem não sentia essas coisas carnais, de instinto e arrepio.

Por tão poucas tentativas de gostar, não as ousa contabilizar. Decidiu buscar pelo sexo hétero e lento. Ao seu tempo e modo. E fingiu pirofagia sem saber se queimar. Era só fumaça.

Investiu em terreno conhecido e, com cautela, descobria o que havia entre os contornos dos sorrisos, por trás dos cabelos, nos detalhes dos olhos, até por baixo dos panos... Mas demorou para despencar dentro.

Na beira do abismo, quase caindo, hesitou, parou tudo. As coisas aconteciam rápido demais para ele, por mais que demorassem mais que o comum. No entanto, apesar do fogo não ter se apagado, não o deixaria impune. Na ocasião seguinte, a chama o engoliu morno; teve pena de arder o garoto.

Poderia te-lo consumido, e depois deixa-lo voltar das cinzas, devagar como ele. Seria uma lição e tanto sobre brincar com chamas... Mas fogo sabe do seu calor. Fazer-se brando sem promessas foi uma chance sem futuro. Um desafio da mais alta simplicidade, daquele que só encara quem se faz fogo também.

E ele correu, assustado. O medo desfez sua pirofagia de festim. Talvez tenha levado consigo uma brasa... do tamanho que consegue suportar. Enfim, acha que gosta de comer mulher. Mas ele sabe, como o instinto menino o fez saber, que nunca terá convicção se não deixar-se queimar.

“(…) E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto
Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.”
[Manoel de Barros]



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ATO

Foi vista bebendo gin. Comprou o que restava da garrafa e depositou-se sem pressa no banco alto do lado de fora. O boteco não tinha o privilégio da esquina. Ficava entre lojas que só se revelam durante o dia. Sua solidão era dividida com a daqueles que há muito aceitaram sua perdição. Talvez uma puta e seu cliente na mesa ao lado. Martini e whisky barato. O cara do balcão deve ser viciado em crack em seu momento alcoólatra. Em pé, o velho é daqueles boêmios que viu as noites se transformarem com os anos... e a sujeira permanecer. Ela compunha o cenário destoante. Mas não julgou. Sequer notou.

Depois de esquecer, andou até aonde a música lhe puxou. Suou todas as suas lágrimas. Recompôs-se com a dose dupla de vodka com energético. A primeira foi quase toda para o corpo, literalmente. A segunda foi para a alma, caso houvesse alguma. Tirou a blusa e, do alto, dividiu o público com a dúzia de sedentos ao seu lado.

Conquistou um grupo gay do qual recebeu goles de água especialmente cristalizada. Então suou mais, e desceu mais... até um darkroom. Não havia lugar melhor para confrontar seus demônios do que no escuro, o que guarda seus medos. Delirou.
Quando emergiu, viu que na saída havia luz... Já? Que breve o breu.
Juntou-se, vestiu os óculos escuros, e partiu... Desde então, não foi mais vista.

O desamor encerra o encanto
Estava à procura disto quando desligou o telefone.
De encantar-se...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

VI
VENDO

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

À IRA

"Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!"


"Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira…
O sol é um doente a enlanguescer…

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu…e veste luto o mar…
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em uma urna de oiro,
No mar da Vida, assim…uma por uma…"


[Florbela Espanca]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

OLHOS FECHADOS

Descobri que tenho sido uma desiquilibrada. Uma fanática e obssessiva. Uma fora de mim. Fantasiosa. A louca.
Eu me perdi na queda livre. Quase me parti. Quando nada mais se encaixou nos sentidos, suspendi.

"O que vocês diriam dessa coisa
Que não dá mais pé?
O que vocês fariam pra sair desta maré?
O que era sonho vira terra"
Tudo parou. Fechei os olhos, encobri a visão do coração com pureza. E pude começar a ver.
Em breve, quem sabe, poderei abrir os olhos e seguir com a simplicidade de nada ansiar. Estar em paz por ser amor da cabeça aos pés. Plena e dona de mim.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir , se me restasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo..."

[Guimarães Rosa]