segunda-feira, 28 de julho de 2008

INTOCÁVEL

Lá no cantinho do travesseiro ainda tinha um pouco dele.
Tinha.
Três ou quatro aspirações o levaram para o mesmo lugar intocável onde está todo o resto.
Ela procura vestígios,
restos de sua presença...
Passa o olhar pelas paredes, arestas, desníveis...
Insistentemente...
IN SIS TEN TE MEN TE
NADA
palpável, visível...
NADA
além da presença PLENA
das saudades deixadas das horas passadas à sua sombra.

"Amizade: quando o silêncio a dois não se torna incômodo.
Amor: quando o silêncio a dois se torna cômodo."
[Mario Quintana]

INQUIETO DEPOIS

"Eu tenho mania de deixar tudo para depois...
Depois a contagem das cartas a responder...
Depois a arrumação das coisas...
Despois, Adalgisa... Ah,
Me lembrar mais uma vez de romper definitivamente com Adalgisa!

Depois, tanta, tanta coisa...
Depois o testamento as últimas vontades a morte.
Só porque vai deixando tudo para depois
É que Deus é eterno
E o mundo incompleto
Inquieto...
Só é verdadeiramente vida a que tem um inquieto depois!"

[O deixador, Mário Quintana]

sexta-feira, 25 de julho de 2008

DESVIO

A mão toca...
E o olhar desvia
para longe
do outro
olhar
o sentir
da
A
L
M
A

QUILOS DE METROS DE HORAS

Agora...
O que dizer?
Frases loucas, memória,
Um passo, trajetória,
Um amor, alguma história?

O que há?
Ilusões desfeitas,
Areia de mar,
arte sem par?

Redemoinho
de pensar.

Labirinto de sentimentos
tormentos de navegar.
A dança do universo
disperso
conforme
a mudança do vento,
ao som dos carros
a dezenas de quilômetros por hora.

Eu, que horas?
Em que tempo?

Alguma coisa
queria ser dita
e se perdeu
na via
levada pela velocidade das dezenas de quilômetros por hora dos carros que cortam meu tempo.

"(...)É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso não entende nada.
(...)
- E a música? - desafiou.
- A música - o velho traçou com o dedo uma pausa no ar - é a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou do que não estou dizendo, pois é precido ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão o ar? A música é o silêncio em movimento.
- O mesmo com as palavras.
- Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio."
[O Encontro Marcado - Fernando Sabino]

quinta-feira, 24 de julho de 2008

DEIXA-ME SEGUIR PARA O MAR

"Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...
.
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me racamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se...
.
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
as imagens perdendo no caminho...
Deixa-se fluir, passar, cantar...
.
toda a tristeza dos rios
é não poderem parar!"
.
[Mario Quintana]

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Depois do encontro ela se desprendeu do tempo como já nem lembrava.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

DESDIZER

Nem tudo é ócio, tédio, e o amarelo não faz tanto parte assim de meu coração.
O marasmo não sobrevive à paixão.

"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"
[Vinicius de Moraes]

quinta-feira, 17 de julho de 2008

AMARELANDO

Meu coração anda amarelando ao modo de Neruda.
Já não tenho muita escolha, já não sou muita coisa, sei de quase nada.
Os planos caem por terra a cada tentativa. Quando penso estar seguindo o caminho novo: PUFF, a trilha se dispersa. Tento enxergar novidades no horizonte e NADA.
O sol se pôs novamente e grande parte de meu dia apenas passou... se foi carregando tudo o que deixei de cometer. Daí o sono da noite parece desnecessário como se ela fosse novamente compensar o dia que passou pelas costas... Mas toda noite eu tento.
"O que te apetece"? Não sei. Tudo, nada... tanto faz! Não respondo.
Vem a vontade de chorar mas o choro não acontece. Nem mesmo isso!
Vazio...
Já senti vazios diversos... Nenhum tão estranho como este.
Deve ser culpa deste amarelo gastando meu azul.
Bom, que passe logo! E que esta história de amarelar o azul no fim se torne apenas um versinho, como aquele do Leminski:
"Amar é um elo
entre o azul
e o amarelo".

.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

SILÊNCIO

Estranhamente tenho me silenciado
tanto
que comecei essa prosa
há uns 5 dias...
Agora já nem é prosa,
é quase poesia.
.
Excesso do nada.
MO-NO-TO-NI-A
de fora.
SiNCRoNia
de dentro.
Mundo lento,
Coração selvagem.
.
Mas do que eu falava
era do silêncio.
O que há para falar,
afinal?
.
S I L Ê N C I O

segunda-feira, 7 de julho de 2008

FOI-SE

"Há noites em que não posso dormir de remorsos por tudo o que deixei de cometer."
[Mario Quintana]

sábado, 5 de julho de 2008

MORRER ACALMA

"já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma"
[Paulo Leminski]

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"My mind trembles with shimmering leaves,
My heart sings with the touch of sunlight,
My life is glad to be floating with all things,
Into the blue of space and the dark of time."

ACASO

"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro." [Fernando Sabino, O encontro marcado.]

Essas palavras eu já buscava há tempos e caíram em minhas mãos na hora certa. No momento em que o presente se desfez frente a meus olhos, esta citação me forneceu a idéia da possibilidade de um novo horizonte e a certeza de que, desta vez, eu deveria fazê-lo surgir resultado de minhas próprias escolhas. Cabe a mim revelar sua amplitude.

Há chegada a hora de escolher por completo o que fazer de meu futuro próximo. Mais difícil que continuar é começar. Alcancei a estaca zero; me descontruí; me perdi. Agora me dou a chance de ser. Nunca as escolhas foram tão claramente responsáveis pelo devir.
A certeza de que estava sempre começando faz parte de mim. Sempre me senti assim e nunca fui incapaz iniciar algo novo.
A certeza de que era preciso continuar adquiri depois de muitos erros e depois de quando as coisas passaram a aparentar superficiais. Daí aprendi a desbravar de tudo um pouco.
a certeza de que seria interrompida antes de terminar demorou a se estabelecer, mas quando ela se fez muitas respostas vieram. Assim, sinto a necessidade de saber lidar com o acaso para que, o mais breve possível, eu tenha prática em fazer da interrupção um caminho novo.
Estou neste ponto.
“É com os acasos que nos atiram da direita e da esquerda que urdimos o nosso destino. Acreditamos dizer o que queremos, mas é quem nos fez falar pela primeira vez que fala escondido por dentro das nossas palavras.” [Jacques Lacan]

PERGUNTA-ME

"Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinzas
e despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enovoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer"
[Mia Couto]

quarta-feira, 2 de julho de 2008

PESO DA DOR

São nessas horas frias, sem horizonte e de noite alheia que minhas dores resolvem minar minhas esperanças, sonhos, e tudo o mais que nutre aquela pontinha de força que cultivo com muito cuidado.
São em horas como essa que chego a me convencer de que superestimo o poder dessa forcinha que insisto em regar com o que há de melhor em mim.
Mas são em horas como essas que sinto essa forcinha segurar sozinha as toneladas do peso de minhas lágrimas e descrenças. Então me supreendo. Apesar de frágil, tem o poder da luta.
Depois tudo vira pó.
Daí eu assopro
Olho ao redor
E - bem como me ensinei- nem lembro o que doeu.
Só sei que passou
E o amanhã já vem.

terça-feira, 1 de julho de 2008

"Mais vale que delire o pensamento"
[Bocage]

[Magritte]

“Acabou o tempo do Belo. Começou o tempo do Novo”

[Paulo Leminski]

ROTINA

"A idéia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
A rotina da garganta é o rock
A rotina da mão é o toque
Julieta é a rotina do queijo
A rotina da boca é o desejo
Vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza
Toda rotina tem sua beleza"
[Campanha publicitária Natura]
Às vezes publicitários mandam bem.
A rotina da marina é a maré...
=P