quarta-feira, 28 de outubro de 2009

OUTRAS PALAVRAS

mútuo?

mutação

mútua,
ou não.

talvez o vento não erre direções...
são relativos, caminhos e erros
o vento, não

relativação

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DILACERA


Talvez fosse uma mulher agora. Seus desejos tem sido tão dilacerantes quanto todo seu resto. É uma época sangrenta. E talvez mulher tenha nascido pra isso. Para sangrar.
Não há cor mais feminina; mais ferida aberta. Dor e força, uma paixão melancólica. O tom rubro é da espera sem fim. Pois é uma resistência renitente, insistente... É crente. Mulher é assim mesmo em sua natureza. Está em contato direto com as entranhas.
Vermelho é ela pelo avesso. Por isso talvez seja mulher agora. A cor pinta a necessidade de par, de paralisação. Total redenção. Pede-se acolhimento, salvação; clama por início.
É urgente estancar e cessar tudo o que for rubro. Não deixar coágulos.
Por isso o vinho, por isso o sangue, por isso o vermelho. Por isso a mulher e o coração.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

INFINITAMENTE PESSOAL

Hoje, não...

Me falta canção

Sentir o silêncio

Hoje, eu parei


um lugar sem fundo

uma saudade
daquele mundo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz."

[Eugénio de Andrade]

"- Diz-me uma coisa, compadre: porque lutas?
- Porque tem de ser, compadre - respondeu o coronel Gerineldo Márquez. - Pelo grande Partido Liberal.
- Que sorte tens em sabê-lo - respondeu ele. - Eu, pela parte que me toca, só agora me apercebo que luto por orgulho.
- Isso é mau - disse o coronel Gerineldo Márquez.
O coronel Aureliano Buendía ficou divertido com o seu sobressalto. "Naturalmente", disse. "Mas em todo o caso é melhor isso do que não saber por que se luta." Olhou-o nos olhos e acrescentou a sorrir:
- Ou lutar como tu, por uma coisa que não significa nada para ninguém".

[Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão]

Minha maior mania
é acreditar num outro dia

TRASIÇÃO

Volto sim,
um dia, eu volto
Mas parto
pra sempre
E fico...
se não é hora ainda.
Eu continuo
pois sou duradoura

Ajuda não se recusa.
Nunca se sabe quando pode-se precisar dela.

REFÉM

Fuga de mim.
Não importa quantas vezes eu parta
quantas vezes eu esqueça...
As dores,
os medos continuam os mesmos.
Existem, como existo.
Em certos momentos não se pode escolher.
Me torno refém...
Por algum motivo, a vida precisa ser preservada.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
a palavra na língua
aquietá-los.

Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
sortilégio de vida
na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
se à lucidez dos poucos
te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro
se nas coisas que digo
acreditares.”

[Poema sem título de Hilda Hist]

"- O que é que você quer?
- Não quero nada, respondi. Quero o que as coisas quiserem.
- Ninguém pode passar sem querer. Está com medo de querer o quê?"

[Trecho do conto Daruma Arigatô, de Paulo Leminski]

sábado, 10 de outubro de 2009

BORBOLETAR

"Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo"

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OUSADIA É A PALAVRA

Não existe verdade absoluta. A revolução vem de baixo. Não há como ser diferente. Ascende das entranhas, das raízes mais profundas. É assim na história, porque é assim na gente. Tudo no mundo se corresponde e o óbvio sempre é o mais difícil de enxergar.

Acontecimentos se interligam em todos os níveis e não é preciso compreendê-los. Basta sentí-los, acompanhar o fluxo, caminhar em harmonia.

Negar a correnteza requer esforço. Nadar no sentido contrário, cansa. Exercita, mas é errante. Por isso, a pena vale o aprendizado, mas toma tempo e sempre acaba na margem enquanto a vida do rio corre.

No entanto, o ciclo é assim mesmo. A gente erra, insiste, se cansa e vai parar na margem. Para isso as margens - que são tantas - servem: Para nos ensinar sobre o fluxo; para aprendermos a fluir.

Eu não tenho fluído. Tenho tentado demais, errado demais, insistido demais. Me cansei demais. Perdi muitas águas e, principalmente, seu tempo. Fiz mar de água doce. Foi forte, divertido, e me perdi.

Mesmo sabendo que me perderei sempre e sempre e de novo, é bom descansar. É ótimo saber que meu rumo está bem aqui, tocando os meus pés. E, conforme o fôlego volta, me deixo fluir.

Uma revolução está por vir em mim. E essa, de tão profunda, ouso dizer que trará uma nova era, tempos duradouros. Até que a verdade caia novamente.

OUSADIA. É isso que sinto conspirar quando intensiono dar meu primeiro passo. Não importa se racionalmente parece contraditório, mas a maior segurança que sinto, intuo, vem da ousadia. Isso é fluir.