domingo, 28 de junho de 2009

NEW WAVE

Eu gosto mesmo é do novo e, principalmente, do momento em que ele acontece. Definitivamente, a maioria das coisas em minha vida acontecem quando tem de acontecer. Às vezes, chegam meio atrasadas, só pra eu aprender a esperar e para testar e ampliar meus limites. Outras vezes, chegam adiantadas e me pegam de surpresa, me lembrando de que não sou tão dona assim de meu tempo.

Coisas novas mudam a rotina, balançam as estruturas, tiram tudo do lugar. Desarrumam cada espaço e te fazem estar em constante busca por uma melhor organização de si mesmo. Apontam a desnecessidade de coisas até então fundamentais, assim como evidenciam o quão despreocupado você tem sido com alguns pontos de sua vida.

Iniciar é sempre bom e é a melhor parte de qualquer coisa que aconteça. É aprendizado e inovação... Sob coragem.

"Centímetros
sentimentos mínimos"
P.L

"A POESIA É UM INUTENCÍLIO"
Paulo Leminski

domingo, 21 de junho de 2009

SEM CONVENÇÕES

Sabe, aprendi a apreciar a solidão dentro de casa. Poder cogitar um banho à meia noite de sábado, por pura falta do que fazer, por nada querer fazer e nada convir. Isso permite a anarquia da vida privada.

Tão bom no começo da madrugada fazer uma seleção de músicas no playlist, levar o laptop pro banheiro e escolher aleatoriamente a música "The Show Must Go On" do Pink Floyd para começar. Depois, correr pro chuveiro com uma latinha de cerveja. Melhor que isso, só quando o banho for de banheira.

Logo após o banho, ainda mal enxuta, acender um cigarro, fino igual a um palito de fósforo, e abrir um livro ou uma revista. Quando cansar, colocar o pijama e assistir a um filme daquele que fica na prateleira meses esperando uma chance de ser visto. Então, no fim, quem sabe, dormir.

O QUE DÓI ÀS AVES


Essa história de sair voando de lugar em lugar vem de uma natureza meio dolorida, melancólica, visceral e selvagem. Às vezes ocorre às aves não mais levantar voo- ao menos não longíquos- já que um bom terreno foi encontrado, daqueles de viver confortavelmente. Onde poderiam criar planos de raízes profundas e construir sonhos sólidos do tamanho que eles fossem. Mas aves não nasceram para terrenos.

Esses alados nasceram para alto de árvores, variáveis de tempos em tempos; Para viver em busca do clima ideal, em corriqueiras migrações. Não têm sua natureza feita para apegos, para horizonte limitado. Mas, ainda assim, se apegam.

O que dói às aves é querer ficar de vez em quando, mas sempre ter que partir, conforme rege sua natureza. Nega-la seria não viver, se trair, perder o canto e o encanto. Já partir, é uma constante dor, mas, de tanto ser inevitada, é necessária para que possa haver o canto.

Foto: Marina Bártholo

quinta-feira, 18 de junho de 2009

SONHANDO FRIO


Um misto de emoções certeiras e solidões costumeiras batido no liquidificador do dia a dia formou uma massa de densas manias compulsivas. De repente, uma personalidade nada homogênea e de cor duvidosa transitava pela rotina vaga do existir e não pensar, não saber e ser.
Certo dia anoiteceu, a terra tremeu. Então amanheceu e the dream is over.

Foto: Marina Bártholo

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Não consegui desfazer a mala.
Acho que não voltei...
Sou par t ida

domingo, 14 de junho de 2009

"Tranquilamente
Como adormece a noite pelo Outono"


Foto: Marina Bártholo

sábado, 6 de junho de 2009

"Escolha"

"Eu te amo como um colibri resistente
incansável beija-flor que sou
batedora renitente de asas
viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto.
Pingas na minha boca umas gotas poucas
do que nem é uma vacina.
Eu uma mulher, uma ave, uma menina…
Assim chacinas o meu tempo de eremita:
quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
as que vestiram meus pés
quando caminhei as areias.

Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto

Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias

Eu te amo.
De todos os nossos montes
fico com as encostas
De todas as nossas indagações
fico com as respostas
De todas as nossas destilairias
fico com as alegrias
De todos os nossos natais
fico com as bonecas
De todos os nossos cardumes
as moquecas."
[Elisa Lucinda]

"CREDO"

"De tal modo é, que eu jamais negá-lo poderia:

sou agarrada na saia da poesia!
Para dar um passeio que seja, uma viagem de carro, avião ou trem, à montanha, à praia, ao campo, uma ida a um consultório com qualquer possibilidade, ínfima que seja, de espera, passo logo a mão nela pra sair.
É um Quintana, uma Adélia, uma Cecília, um Pessoa
ou qualquer outro a quem eu ame me unir.
Porque sou humano e creio no divino da palavra, pra mim é um oráculo a poesia!
É meu tarô, meu baralho, meu tricot,meu i ching, meu dicionário, meu cristal clarividente, meus búzios, meu copo d'água, meu conselho, meu colo de avô, a explicação ambulante para tudo o que pulsa e arde.
A poesia é síntese filosófica, fonte de sabedoria, e bíblia dos que, como eu, crêem na eternidade do verbo, na ressurreição da tarde e na vida bela.
Amém!"

[Elisa Lucinda]

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A felicidade não é o contentamento.
É, antes, o descontentamento,
o eterno movimento para conter
o incontentável

É não conseguir,
e, sobretudo,
querer buscar.

Nada é mais triste
que a vida nula
em que nada cresce,
começa ou
continua.
Somente termina.

Nada rima com sempre
Já o agora rima
com ir embora
e com demora

Uns precisam falar para calar o que grita por dentro,
Outros precisam calar para falar o que grita por dentro;
A renúncia é sublime, não tem patamar.

É que hoje eu tenho mais poesia
Hoje, eu sou feliz todo dia

ESSA UMA VEZ

Uma vez, eu morei pertinho do aeroporto. À noite, eu deitada no escuro, via pela janela um avião passar. Enxergava luzes e rodinhas, prontas pra rodar. Fazia tanto, tanto barulho aquele que chegava... Incrível, mas dava medo ver algo tão grande, que esteve tão alto, vir pousar por perto.
Depois do silencio, eu dormia.

Essa manhã, na penumbra, eu vi pela fresta da cortina um passáro passando... Indo e voltando. Era tão silencioso aquele bater de asas! Incrível, mas me senti convidada: - Não fique aí travada!
Depois do canto, eu levantei.

terça-feira, 2 de junho de 2009

CREPUSCULAR

CREPUSCULAR é a bela melancolia
não é alegre
não é triste

é o nulo colorido
de cores inesperadas
na eternidade natural

o raio que penetra
o bréu
o bréu que anoitece
o sol

um matiz constante
de nuances macro

é sutileza
segredo
silêncio
pássaro voando

é passageiro...
sempre volta
às vezes falta

é provável
imprevisível
e admirável

só admirável

em seu completo
e inútil
mistério

Lá pro meio de maio, início de junho, é a época que você diz em que Brasília fica mais bonita. Pois, nesses tempos, o céu da cidade tem menos nuvens e proporciona os mais belos crepúsculos.
É dessa época, de belos fins de tarde, o nosso amor crepuscular.