terça-feira, 14 de dezembro de 2010

À IRA

"Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!"


"Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira…
O sol é um doente a enlanguescer…

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu…e veste luto o mar…
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em uma urna de oiro,
No mar da Vida, assim…uma por uma…"


[Florbela Espanca]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

OLHOS FECHADOS

Descobri que tenho sido uma desiquilibrada. Uma fanática e obssessiva. Uma fora de mim. Fantasiosa. A louca.
Eu me perdi na queda livre. Quase me parti. Quando nada mais se encaixou nos sentidos, suspendi.

"O que vocês diriam dessa coisa
Que não dá mais pé?
O que vocês fariam pra sair desta maré?
O que era sonho vira terra"
Tudo parou. Fechei os olhos, encobri a visão do coração com pureza. E pude começar a ver.
Em breve, quem sabe, poderei abrir os olhos e seguir com a simplicidade de nada ansiar. Estar em paz por ser amor da cabeça aos pés. Plena e dona de mim.