segunda-feira, 28 de setembro de 2015

AMOR-ALVORADA

Eu não quero precisar de você para conseguir dormir tranquilamente,
Nem necessitar do seu impulso para acordar.
Não quero que você seja a única razão de eu providenciar algo interessante para o jantar,
Nem que o fato de ficar nua na sua frente seja a pressão para voltar à academia.

Não quero precisar de você para nada que tenha algo de claramente útil.
Até mesmo as utilidades subjetivas são indignas demais para o que quero viver contigo.
Pois não quero que sejas o responsável por apaziguar minhas carências,
Nem por preencher esse vazio insustentável que por vezes me tira o equilíbrio.

Não quero precisar de você para saber que sou merecedora de atenção,
Nem para me sentir desejada e em paz comigo mesma.
Não quero que você seja rotina, coisa comum em meus primeiros e últimos pensamentos,
Nem que a expectativa de te ter seja alcançada previsivelmente.

Eu quero que você seja a exceção dos meus dias,
Aquela presença excepcional que inspira novidades.
Quero que você ajude a compor alvoradas na minha vida:
aquela impermanência de cores, sol brilhante de calor ameno,
passarinhos que escutamos sem ver e que nos surpreendem
em vôos entrelaçados antes de sumirem de vista.

Eu quero que você sustente incondicionalidades que quero despertar em mim.
Eu quero saber sustentar incondicionalidades que me despertam para você.

Evitei dizer até aqui, mas tudo o que quero sentir por você é amor.
E isso me amedronta porque se eu sentir amor, vou querer ser amada.

Eu só aprendi a amar se minhas necessidades fossem satisfeitas.
Com toda a cortesia dos romances: declarações, comidinhas, flores,
elogios, desejo, dedicação, prioridade, presença.

Mas, por você, quero amar incondicionalmente.
Com toda a sutileza do espírito: liberdade, interseções, afinidades,
energia, elevação, eternidade, gratidão, ligação.

Eu quero amar assim porque ao experimentar o infinito dos seus olhos,
ou ao fechar os meus em sua presença,
intuo a Verdade e me sublimo.

Nosso encontro me enaltece tanto,
tanto que quero me desfazer de tudo o que prende,
de tudo o que condiciona o ser e as relações.

Mas, e se apenas ao pretender o alcance de um amor incondicional
eu já estiver condicionando?!

E se eu não souber satisfazer todas as minhas necessidades sozinha
e precisar de você para me trazer segurança?
E se eu precisar de você para dizer com frequência que me ama,
que me quer, que sou linda, que ocupo seus pensamentos?
E se eu precisar de você para me abraçar sem contenções de força e de tempo,
e me beijar longamente cheio de tesão sempre que tiver a chance?

E se eu precisar de você para desaguar todo o amor denso que produzo dentro de mim
e que posso não saber canalizar para outro canto... Você vai se sufocar?
E se eu precisar de você para me acompanhar em muitos do vários planos que tenho
de viagens e experiências estranhas... Você vai se pressionar?
E se eu precisar de você para me ajudar a não subestimar minhas necessidades
e entender que ainda tenho muito o que aprender... Você vai se decepcionar?

Eu não quero precisar de você.
Mas e se eu precisar?

Idealizo... Mas será que você vai me amar de algum jeito que eu sinta?
E será que o amor que eu te der será suficiente?
Vai sobrar?
Vai faltar?

Idealizo exaltações,
mas logo me deparo com as profundezas terrenas:
Assim como o pássaro que carrega a âncora,
gravados em minha perna;
assim como o ser dividido entre o quaternário
e a tríade superior.

...

Amar assim me deixa tão vulnerável...
You're so fucking special...
But I'm a creep.

terça-feira, 28 de julho de 2015

IN

INSEGURANÇA é o que mais define essa minha parte com a qual venho travando embates ao logo dos últimos dias. Essa parte, além de insegura, é medrosa e culpada. Quando surge na mente, enfraquece o meu verdadeiro âmago e faz com que eu seja menos eu.
FRAUDE é quando eu sou menos eu. É como eu me sinto quando não faço o que eu me designo a fazer. E é assim que a minha parte insegura me faz sentir quando me assombra. 

Ultimamente, tenho me sentido uma fraude, pois não tenho realizado nada de concreto. Todos os planos, adiados, e os dias têm passado praticamente em branco. Entretanto, esses tempos não foram completamente inúteis principalmente porque resolvi encarar esse lado sombrio, ao invés de camuflá-lo com desculpas para mim mesma e esperar que, por alguma razão do destino, ele se esconda de novo. 

Na medida em que olho para dentro da minha fraude, da minha insegurança, do meu medo, da minha culpa, entendo-me um pouco melhor. Entendo que, muitas vezes, essas sensações provocam umas às outras, criando círculos entrecortados de influência.

Por exemplo, se estou em uma situação de fraude hoje, foi porque um velho medo mal resolvido ativou a minha insegurança, que me travou os movimentos. E uma vez travada, me sinto culpada por não cumprir o que deveria... E, logo, sinto-me mais insegura ainda para fazer outras coisas e aí surge alguma consequência prática que me derruba mais ainda... Assim vai.

Então, tenho me perguntado o por quê disso tudo. De questionamento em questionamento, às vezes encontro alguma respostinha que vai me ajudando a dominar meus caminhos.
Conforme entendo essas pequenas porções, simultaneamente experimento maneiras de quebrar o padrão na prática e, assim, fazer a vida continuar a andar como der. Importante mesmo é não parar.  

[Temo estar encontrando perguntas demais e perdendo a poesia.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

LEMBRA

Poeminha que me lembra um grande amor dessa vida.

"Sobre cada lugar se sobrepõe 
a experiência do lugar 
como um selo num cartão-postal
Por exemplo hoje 
sempre que sobrevoo São Paulo 
penso que em algum apartamento 
desta cidade interminável 
você fumando de óculos 
exerce seu direito inalienável
de não mais pensar em mim"

[Ana Martins Marques. Da arte das armadilhas.]

sábado, 6 de junho de 2015

Nowhere. Now here.

Faz uma semana que entrei em meu novo lar. Um pequeno apartamento de um quarto, encontrado depois de muitas buscas. Entrei aqui cheia de sentimentos irradiantes, daqueles que nos alcançam quando nos deparamos com a liberdade diante de nós e reparamos como ela é linda e perigosa.

Até então, eu tinha surfado mais em sua beleza... mas hoje estou passeando pelos abismos que a liberdade proporciona. Eu tinha imaginado esses momentos antes de sair da zona onde estava desconfortavelmente acomodada... E foi a imaginação de instantes como esse que me fez pensar muitas vezes se valia a pena arriscar. "Tudo vale a pena se a alma não é pequena", disse Pessoa. Como sentia ter uma alma grande, mas oprimida numa situação que perdeu o sentido, resolvi abrir mão do que eu tinha.

Eu perdi a companhia de cama que me permitia dormir tranquilamente no escuro - eu tenho medo de dormir sozinha à noite com a luz acesa... com a luz apagada é impossível. Ninguém mais vai me acordar para coisa alguma. Seja para ir ao parque caminhar, ou para cumprir com alguma responsabilidade, ou para providenciar algo para comer e beber depois de uma noite de bebedeira.

Eu ganhei a chance de acordar quando e como bem entender. Ganhei a oportunidade de lidar com meus medos... e isso não tem sido um total desastre a partir do ponto de vista que estou sobrevivendo hehe. Mas simplesmente não tenho conseguido dormir antes das 4h da manhã. Tentei acordar cedo, mesmo tendo dormido pouco. Mas a verdade é que virei uma zumbi cafeinada, então preferi voltar a ser apenas uma notívaga, por enquanto. Eu ganhei também a oportunidade de planejar meus dias como eu bem quisesse. E é estranho quando temos o poder todo em nossas mãos, isso também dá medo.

Bom, a verdade é que personifico a corajosa, enquanto sou uma cheia de medos. Agora que escrevi, isso até faz sentido! O que mais eu poderia ser diante de tantos temores e fraquezas? Só sendo corajosa para viver. Já diria Guimarães Rosa: "o que ela [a vida] quer da gente é coragem".

Eu perdi muitas outras coisas, momentos, situações, status, dinâmica, rotina... perdi tudo o que não era somente meu. Me restou somente o que é meu e eu ainda não conheço a real dimensão disso. Acho que a missão de agora em diante é descobrir, escavar meu mundo interior e colocar as coisas no lugar. É um trabalho eterno, certamente, mas agora é como se fosse um novo começo. Agora, estou vendo toda essa bagunça onde consigo enxergar algumas coisas, imaginar outras e onde me perco e, no desespero, procuro uma saída, olhando para trás.

Escrever é como me centrar novamente, voltar aos eixos da razão e das emoções. E eu fiz isso tão pouco nos últimos tempos... Estava ocupada vivendo, sentindo, e não me preocupei em esclarecer, colocar as coisas em seus lugares. Isso foi um erro. Mas aquele tempo foi muito bom sim. Foi lindo, memorável, um amor sem precedentes (agora estou eu de novo com os olhos marejados). Chegamos às últimas consequências. Isso, um amor levado às últimas consequências. Sou muito, muito grata. E me entristeço porque acabou, não porque não tenho mais. Aquilo não existe mais, simples. Teve começo, meio e fim. E, apesar das coisas na vida serem assim, é impossível passar ilesa.

Acho que me concentrei tanto no lado positivo dessa mudança, que convenci a todos e quase me convenci, que tudo estava lindo. Só notei que as coisas não iam tão bem assim quando percebi que estava tomando banho raramente, que meu cabelo estava um lixo de oleoso, usava as mesmas roupas sempre, minha alimentação estava uma porcaria, minha cara cheia de espinhas, as unhas, sobrancelhas e depilação por fazer. Dai, para completar, dormi e sonhei que chorava até molhar meu apartamento todo. É, vi que não estava fácil. Bom, parte disso ainda é realidade, mas acho que começamos a mudar as coisas depois que percebemos.

Interessante que eu ainda me espanto como  a vida é um grande ciclo cheio de pequenos ciclos. De repente tudo estava no auge: apartamento encontrado, burocracias vencidas, a pós-graduação tão desejada que iniciou, o êxito no contato rotineiro com minha espiritualidade, pequenas realizações cotidianas como ir ao parque sozinha para deitar na toalha e ler um livro procrastinado, ou conseguir minar a vergonha de falar em público. Foi só notar que tudo estava indo para o infinito e além bem rápido que as coisas deram uma decaída. C'est la vie... ou "that's the way life goes", frase que minha "mãe" italiana-canadense deixou gravada em minha memória.

Enfim, isso tudo faz apenas uma semana, ou um pouco mais que isso. Mal posso esperar pelos próximos tempos. Venha o que precisar. Enquanto isso, vou aproveitar cada oportunidade para crescer. É um momento único para mim. Agora sou a Marina avulsa. E tenho a missão de permanecer assim por um bom tempo, resistindo às tentações de amar e me envolver com alguém de maneira tão profunda que faça nossas vidas se confundirem na mesma engrenagem que, de repente, pára de funcionar porque eu perdi meu "timing".

Agora, "alis volat propiis".

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Por mais de um mês

Desejo insistente de liberdade. Pelo menos é o nome que dei para o que busco diariamente em meus sonhos acordados. Historinhas que surgem na mente em momentos de ócio ou quando me perco na paisagem que passa na janela do carro. Surgem e martelam, não me largam. Serão fantasias do ego ou mensagens do subconsciente? Sinais da intuição?


Por mais de um mês, me alimentei desse desejo de catar as minhas coisas, determinar o que é meu e o que é dele, encontrar um canto para morar sozinha. Pintar paredes das cores que quiser, fazer compras sem pedir opinião, pensar só em mim. Chamar as amigas para casa, fazer guacamole e tomar vinho. Planejar um mochilão pra Machu Picchu sozinha... Eu sempre quis ir ao Peru. Ficar em albergues, conhecer estrangeiros, praticar o espanhol, o inglês e a sociabilidade, como já experimentei algumas vezes. Ir aos shows que bem entender, não perder exposições, assistir à uma peça... Nossa, quanto tempo não vou ao teatro! Passar horas na livraria e encontrar respostas. Conhecer gente. Gente interessante, gente diferente, gente besta, gente que vai abrir a minha mente. Viajar no fim de semana com a grana que sobrou, escolher um destino qualquer e me jogar nas possibilidades, como era de costume. 

Por mais de um mês, tenho sofrido fisicamente. Meu corpo somatizou a agonia de não realizar o desejo da alma. Dor de cabeça, tontura, enjoo, pressão baixa, indisposição, pesadelos, fantasmas. Estaria grávida? Não. Menstruei e mal trepei. Câncer? Deficiência hormonal? Calor? Depressão? Nada. Só uma espécie de labirintite emocional que começa a ser curada com quatro comprimidos por dia e tentativas loucas de fazer a escolha certa. 

Em cima do muro

Por mais de dois meses discutimos. Logo nós dois super conectados, entrosados. Um casal de passarinhos voando lado a lado na mesma direção. Mas coisas que magoam foram acontecendo e se repetindo, até que murchou tudo. Nunca seria a mesma depois daqueles episódios pesados de choros de terror às 4h da manhã, em que prometi a mim mesma que sairia desse relacionamento. Dei um ultimato, exigi melhoras dele. E pior que ele cumpriu. Melhorou em tudo, virou o cara digno de continuar fazendo parte da minha vida. Eu que não voltei ao normal. E estou convencida de que nunca voltarei. O relacionamento murchou dentro de mim e ainda não tive fôlego para inflá-lo novamente.

Na medida em que o relacionamento murchava, cresceu dentro de mim esses desejos de liberdade, independência. Nossa, escrevendo assim parece que a solução é simples: Encerrar esse relacionamento que parece não fazer mais sentido e ir buscar a mim mesma. Seria simples se não fossem as emoções múltiplas que nunca sei ignorar e que jogam o "buraco" lá pros confins de baixo.

É nesse ponto da história em que entram as tentativas loucas de fazer a escolha certa. Acredito, sinto, que o amo. O vejo e dá vontade de abraçar, apertar, beijar, levar pra casa. Isso apesar de o desejo sexual por ele ainda não ter voltado à tona. Constato como ele têm sido um bom companheiro com a mania de fazer surpresas fofas, se importar com o que quero, reparar em mim, botar filminho para assistir, dar boa ideias, ser tão trabalhador, interessado em evoluir, estudioso, cheio de disciplina... Aquele cara que gera um relacionamento em que posso "investir" e que, certamente, frutos surgirão. Sei disso pois foi assim nos nossos tempos áureos. 

Quando começamos a nos envolver não conseguíamos nos largar. Eu ficava mais na casa dele do que na minha. Preferia dormir naquele colchão de casal dele horrível e sem roupa de cama do que no meu colchão de solteiro ortopédico novinho, com lençóis de boa qualidade, cheirosos e na estampa que eu havia escolhido. Amontoava minhas roupas nas duas gavetas que ele havia me cedido na maior felicidade. Ele e deu escova de dentes... e logo eu tinha também desodorante, absorventes e o kit completo de banho. Fazia trabalhos da faculdade na casa dele, mesmo que ele não estivesse lá. Ele me deu também um pouco de disciplina para fazer meu TCC. Cuidou de mim incontáveis vezes em que fiquei doente. Cuidou mesmo, com carinho, sopinha, remedinhos, chazinhos, banhos. Cuidou sempre... Me carregou escada acima quando torci o pé e me consolou nas derrotas. Isso até sem morar junto, apenas me acolhendo no seu espaço. Eu demorei um ano para aceitar a proposta de morarmos juntos de verdade. Depois, vivemos sob o mesmo teto por um lindo ano, na perfeição da imperfeição. No ano seguinte, partimos juntos para viver em Dublin. Não deu certo e voltamos um semestre depois. Estamos vivendo juntos há mais uns oito meses no Brasil. Será que foi aí que começamos a desandar? Sei lá.

Mas é o amor que sinto por ele hoje e toda essa história que construímos que me deixa em cima do muro nesse momento em que preciso decidir entre permanecer no relacionamento ou seguir minha vida. O caminho mais difícil não é tão óbvio assim. Pois permanecer no relacionamento como está, não dá... é infelicidade, doença. Ir viver minha vida avulsa certamente é um caminho com pedras e espinhos que exigirá força, coragem e amor (o qual, até então, tem sido mais importante o que sinto por ele). 

O terceiro caminho

Então, tento criar uma terceira possibilidade, uma alternativa... Eu amo os caminhos tortos e alternativos. E se eu conseguir renovar totalmente meu relacionamento? Criar uma nova vida a dois, em que eu me possibilite vivenciar minhas liberdades e o autoconhecimento? Será que consigo ter as duas coisas? Será que terei amor suficiente para tudo isso?

Enfim, será que inventei esse terceiro caminho para fugir da responsabilidade de escolher? Ou não? Sempre acredito que a vida pode ser mais fácil... 

Que dilema tenso. Tenso e urgente, pois estamos na iminência (tipo amanhã) de mudar de apto. Deixar esse e ir para nosso apartamento anterior, maior e próprio (dele). 

Enquanto não consigo me resolver totalmente, aposto nesse terceiro caminho, esperando algum milagre do tempo ou algum vacilo dele. 

Sinto-me covarde. 

Por isso o choro

Eu costumava chorar com mais facilidade. Era um momento quase diário. Não falo de depressões, dos dias obscuros como poços úmidos, frios e fétidos. Mas de passados lúcidos em que eu confrontava meus sentimentos com mais naturalidade. Por isso o choro.
Acho que endureci. Temo levar as coisas de forma pífia demais.

Post de 2011 também. Um rascunho que resolvi publicar pela surpresa. Realmente o choro esteve raro. Mas nos últimos dias é uma constância. Vale a publicação.

O VIZINHO


Comunicação com o mundo. O vizinho da frente, o ET, a luminaria roots, o pc na frente da janela. Sobre como não o reconheria na rua, sem suas duas janelas.
A conta que chegou com seu nome.


Post de 2011, que deixei por fazer como tantos outros. Me trouxe memórias, senti poesia, resolvi postar.