quinta-feira, 8 de junho de 2017

PORTA

Quarenta e sete pessoas e grupos antes de você no feed do Whatsapp.

Lembro quando desejei muito que meu celular disparasse por uma variedade maior de pessoas. Agora que você silenciou, fica evidente como o meu desejo foi atendido. Eu fiz por onde e estou feliz por isso.

Gostaria de te mandar uma mensagem, chamar para conversar amanhã, talvez. Ma tô com dó de te subir na lista. Está tão conveniente você lá embaixo, longe dos meus olhos, difícil de encontrar.

Por outro lado, também não tenho certeza se quero conversar logo. Estou em dúvida sobre qual parte minha quer falar. Se é a que sente saudades ou a que quer te superar. Mas estou preocupada, curiosa e precisando de informações para poder seguir com mais clareza.

Nas inúmeras vezes em que revi nossa conversa, me deparei com minha última frase escrita para você: "a porta está aberta".

Foi assim que ela esteve todo o tempo do nosso relacionamento. Aberta, escancarada. Você tinha as chaves.

Agora, guardo comigo todas as possibilidades de abertura.

Então, gostaria de te dizer, ainda que não precise: a porta está fechada, babe.

E 47 é meu número da sorte.

terça-feira, 6 de junho de 2017

E NÃO

Tá doendo.

"Eu te amo e não dá mais para continuar".

Quando a sentença foi dita eu fiquei atordoada, a vista embaçou, o som abafou, senti o peito rasgar e o estomago embrulhar. Foi bem físico esse baque. Precisei me segurar.

Você tentou me dar a mão, mas eu não pude. Tive pavor de te tocar. Olhei profundamente para sua face e evitei mergulhar nos seus olhos. O que vi foi a tranquilidade de alguém que realizava uma escolha. Nunca estivemos tão dessintonizados como naquele momento. Ali eu vi que não adiantaria buscar soluções.

O que ficou foi um certo desespero e muita força para segurar a onda. Eu fui muito forte, preciso admitir... o máximo que pude. E eu ri, gargalhei. Acho que é minha forma de me liberar.

Depois daquilo o que me restam são flashs. De repente eu precisei agir. Quis correr com a dor, com o processo. Vi que você havia trazido minha guitarra. Catei tudo seu que me lembrei e coloquei em sacolas. Livros da estante, cujo vazio deixado foi imediatamente substituído. Estava até orgulhosa de mim.

Até que você lembrou do mais doloroso e perguntou: e as chaves? Quer de volta?. Eu levei um choque. Pus-me a retirar seu molho do meu chaveiro. Quando vi, estava tremendo muito quando te entreguei as chaves. Foi a visão mais triste da ocasião. Traumática, eu diria. A cena que mais gera lágrimas.

Você parecia fazer tudo como um ritual. Eu vi que você sacralizou a ocasião. Mas eu não pude, estava surpresa, atônita, concentrada muito mais em não desabar do que em viver o processo. Você perguntou se já deveria partir ou se eu queria que você ficasse mais um pouco.

Então eu lembrei de todas as vezes que você precisou deixar minha casa e eu te abracei com o desejo de que ficasse. Eu não pude te abraçar dessa vez porque meu desejo era o mesmo mas a situação era muito diferente. Eu não podia fazer isso, morri de medo. Me preservei. Mas aceitei que você ficasse um pouco mais.

Conversamos coisas que nem me lembro. Acho que disse que gostaria de enxergar o que você viu para terminar assim. Te perguntei como você conseguia estar tão tranquilo. Lembro de você dizer que nada mudou em relação a mim. Que você ainda me amava, que ainda me admirava e que continuava pensando as mesmas coisas de mim. Só a condição de namorados mudou. Tive raiva quando você disse isso. Porque para mim isso muda muita coisa.

Você me perguntou se eu queria manter contato, que me mandasse mensagens. Não lembro o que realmente respondi.

Quando você partiu e eu fechei a porta, fiquei anestesiada. Resolvi te ver da janela, de onde tantas vezes joguei beijos. Você acenou e eu não pude me mover. Você partiu. Não sei quanto tempo fiquei na janela, mas logo estava na cama chorando agarrada ao celular buscando algum resgate.

Depois de muitas conversas e chororôs noite adentro, desfaleci. Não sem antes tirar nossa foto de meu varal. Rasguei e joguei nem fundo no lixo. Não foi por raiva nem por vontade de apagar o passado. Sei que o retrato continua a salvo em algum arquivo digital. Foi por cuidado comigo mesma. Não queria mais a sua presença no dia seguinte.

Quando enfim acordei, abri o armário do banheiro e lá estava sua escova de dentes ao lado da minha. Joguei fora também, aceitando que ainda teria surpresas. Então caiu a ficha de que eu ainda teria que lidar com muitos outros vestígios, lembranças e encontros seus até o dia em que finalmente nada disso irá doer mais.

Agora, só tenho um mantra:
RESIGNAÇÃO  E REGENERAÇÃO.