domingo, 29 de junho de 2008
"É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão. Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos.E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 'É hora de embriagar-vos! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira'."
Charles Baudelaire
sexta-feira, 27 de junho de 2008
DESPACIO
Face a face.
Olho a olho
Alma a alma
Coração a coração.
Próximos.
A boca mexe, a garganta engole
as palavras que morrem na hesitação.
Sem som
sentido.
Resta a sensação
do sentimento.
Qual?!
O medo
de errar
de sofrer...
De viver?
Não?!
A vez ficou
intensa...
...mente
pra depois.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
CARTA A UMA AMIGA
Quanto tempo...
Bom, o importante é que, como já estamos cansadas de saber, quando nos reencontrarmos será como se no dia anterior tivéssemos nos visto e nos servido de nossa alegria. No mais, as coisas vão corridas por aqui, querida... Muito corridas!!! Mas não perco o fôlego e corro com elas acreditando que um dia ou não precisarei mais correr ou me acostumarei com isso... heheh. Na verdade, até gosto de toda essa pressa... E você sabe!!
Tenho aprendido muito sobre certas coisas da vida, da "machine". Também tenho aprendido sobre a saudade... E ela continua a me assustar! Mas, sabemos, ela sempre fará parte da vida. Ainda bem! Por falar em aprender, aprendi que a liberdade é sempre maior do que imaginamos... Quanto mais a adentramos, mais extensa ela parece ser... Já percebeu, minha companheira libertária?! Já imaginou onde podemos chegar? Creio que bem longe... Mas bem mais perto de nós mesmas.
Essa imaginação... Tenho que te falar uma frase que vi esses dias e que tenho certeza que ao ouvi-la você faria aquela sua expressão inenarrável e diria: "Boto fé, é isso mesmo...". "A imaginação é a memória que enlouqueceu". É do nosso querido Mário Quintana. Ela foi vista num livro instigante, numa livraria idem, por uma pessoa ibidem. Por falar em coisas instigantes, tenho tantas outras para te contar... Mas tem de ser pessoalmente, olho-no-olho e perto o suficiente para eu te cutucar enquanto falo. Em tempo real. Por carta não vale, pois os sentimentos que eu poria se perderiam pelo tempo e pelo caminho. O que importa é que, felizmente, as coisas mudaram desde nosso último encontro e agora tudo é novo e convidativo, bem como gostamos. No mais, espero o retorno. Espero receber um pouco de sua vida em palavras para, quem sabe, amenizar essa minha imensa saudade de você.
"Relaxe e goze", hehehehe
De sua amiga.
BOAS RAJADAS DE NERUDA
domingo, 22 de junho de 2008
FRAGMENTOS
Triste, belo: Um brinde à melancolia.
UN SÁBADO
(Jorge Luis Borges)
Un hombre ciego en una casa hueca
fatiga ciertos limitados rumbos
y toca las paredes que se alargan
y el cristal de las puertas interiores
y los ásperos lomos de los libros
vedados a su amor y la apagada
platería que fue de los mayores
y los grifos del agua y las molduras
y unas vagas monedas y la llave.
Está solo y no ay nadie en el espejo.
Ir y venir.
La mano roza el borde
del primer anaquel. Sin proponérselo,
se ha tendido en la cama solitaria
y siente que los actos que ejecuta
interminablemente en su crepúsculo
obedecen a un juego que no entiende
y que dirige un dios indescifrable.
En voz alta repite y cadenciosa
fragmentos de los clásicos y ensaya
variaciones de verbos y de epitetos
y bien o mal escribe este poema.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
VERBAR
Ficar em casa sozinha comigo mesma é um saco. Não chego a conclusão nenhuma, o diálogo é pesado e o assunto super batido apesar das novidades... Daí começo a duvidar de mim.
Enfim, um tédio só.
Assim me canso, poha. E de quebra como mais.
Preciso fazer alguma coisa...
Na verdade, eu sempre quero precisar fazer alguma coisa.
"Verbar" é o que há!
quinta-feira, 19 de junho de 2008
quarta-feira, 18 de junho de 2008
DON'T STOP ME.
Antes...
"I want to break free" e blábláblá...
Agora:
I wanna make a supersonic man out of you
Don't stop me now I'm having such a good time
I'm having a ball don't stop me now
If you wanna have a good time just give me a call
Don't stop me now ('cause I'm havin' a good time)
Don't stop me now (yes I'm havin' a good time)
I don't want to stop at all
segunda-feira, 16 de junho de 2008
QUANDO A LUZ ENCONTRA O BREU
Me sinto um crepúsculo
Tudo isso e nada mais.
Nem começo, nem fim
A lucidez
abstraída das cores.
o encontro
a mistura
o ser
exato disperso.
A ausência
a presença
transcendente
até virar mistério
Preso, na luz
no breu
à espera
num tempo
sem hora.
domingo, 15 de junho de 2008
"HÁ MEROS DEVANEIOS TOLOS A ME TORTURAR"
Mas é tempo de arriscar...
"A alma farta pisa o favo de mel, mas para a alma faminta todo amargo é doce"
quarta-feira, 11 de junho de 2008
TEMPOS DE EMERSÃO
PORQUE O NOVO SEMPRE VEM!
"Mas é você que ama o passado e que não vê, é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem".
Tijolo por tijolo o muro se desfaz.
Mudança por mudança, Marina se refaz.
Momento a momento, o novo se faz.
Dia-a-dia, o passado fica atrás...
"Pois vejo vir vindo no vento cheiro da nova estação".
sexta-feira, 6 de junho de 2008
CANSADA, MAS VIVA! VIVA, PORÉM CANSADA.
Acorda.
É tarde. Tarde o suficiente para precisar correr.
Corre.
Mas come. Veste, mas escolhe. Toma, mas respira.
Respira.
Está fora de forma. Caminha, mas não sua. Chega, mas espera.
Espera.
Lá vem ele, aquele bauzão. Vê? SIA. Entra, paga, senta.
Senta.
Não é nesta, falta um pouco. É na próxima. Desce.
Desce
E sobe, pelos becos. Reclama do sol, mas hoje acertou.
Acerta.
Erra.
Fala.
Escreve...
Escreve...
Escreve...
Apaga...
Telefona...
Come...
Bebe...
Fala...
Escreve...
Escreve...
Escreve...
Ih!! A bosta do I prendeu!! IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII.
Agora acorda. Existe, ela está ali. Esqueceu, mas está.
Desliga
Vai pra outro.
Pensa, está atrasada. Mas sente sede, bebe, percebe.
Escreve...
Escreve
E se desespera!!!! Olha a hora. Olha o texto. Sente o frio. Anoitece.
E escreve...
Escreve...
Acaba!!!!!!
Daí suspira. A perna pára. Lembra de ir ao banheiro. E lá se vai.
Anda, entra, sái...
Decide
Oba!! Cerveja!!
Não, sem cerveja.
Chega
Entra
Sái
Comida!!!!
Coca, cachorro-quente, esquina, conversa.
Tchau!!!
Arruma
Corre!!
Olha a hora!!!
Silêncio...
Navega.
Escreve...
De novo?
De novo!!
Cansa!!
PUFF!!!
Dorme
... mas só depois do chá.
Ainda há vida.
domingo, 1 de junho de 2008
ALL IN ALL YOU'RE JUST ANOTHER BRICK ON THE WALL
The Wall é o tema central da obra. Um muro construído por tijolos de medo, fúria, trauma, preconceito, fuga... Um muro erguido por instrumentos do sistema ao redor da criatura. O Muro protege, esconde e tolhe o ser denominado Pink que, por ter o muro cada vez mais alto e fechado crescendo ao seu redor acaba sendo isolado da luz, alienado da realidade que há atrás do muro e, assim, vive inerte e despersonalizado em sua fortaleza.
Conceitual como o disco da Pink Floyd, The Wall - O Filme, carrega em suas cenas, que vão e voltam do passado para o presente do personagem, exemplos de tijolos que colocamos ao nosso redor. Os tijolos nada mais são que tabus criados por nós mesmos e a nós mesmos para nos protegermos do sofrimento que toda vida em sociedade regida por um sistema cruelmente tolhidor e massificador causa. O Professor, a Mãe, a Escola, a Família - a hierarquia - são exatamente as marionetes controladas pelo sistema para formar (ou deformar) os indivíduos, desde a infância, em uma massa... Uma massa de carne moída - bem como mostra o filme com sua escola-moedor-de-carne.
O filme é um convite à reflexão. Como disse no início, é uma bomba que estoura lentamente na cara de quem assiste e faz perguntar: Será que estou vivendo atrás do muro? E mais ainda, incentiva a derrubarmos essa barreira tijolo por tijolo antes que sejamos sufocados por ele e aceitemos tudo o que nos for condicionado dentro do muro. Portanto, o ideal do filme é que rompamos com as barreiras construídas pouco a pouco ao nosso redor e encaremos o real com toda a sua luz. Sim, possuiremos e causaremos corações partidos... Sim, encararemos a dor!! Não aceitaremos o muro como uma substituição do "conforto e calor que há embaixo da asa da mãe" para quando o indivíduo estiver crescido demais para isto. A superproteção do muro nada mais é que a cômoda aceitação da ignorância, da alienação.