BALANÇO
[Oswaldo Montenegro]
"Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..."
"Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto".
Hoje acordei radical.
Não quero uma cerveja, quero todas!!
Desejo minhas dezenas de amigos ao mesmo tempo
e todos os sentimentos numa só dose.
Hoje não me venham com minúcias,
mesquinharias, conta-gotas
só quero enchentes,
avalanches de tudo
cada espaço preenchido.
Se couber o silêncio,
que seja denso,
pesado, tenso
insuportavelmente inebriador...
Não me venham com metades,
"abraços curtos para não sufocar"...
Quero perder o ar
depois aspirá-lo
até sentir o limite dos pulmões.
Não quero medir palavras
nem "a altura do tombo".
Quero tudo, sem medida.
A medida é ela toda.