No fim das contas, talvez eu só precise de algo que me faça chorar. Como se as lágrimas promovessem um diálogo entre o eu de dentro e minha pele; entre os sentimentos e o tato; o etéreo e o profano...
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
"Tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos"
[Caio Fernando Abreu]
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
IN
Sou impulsiva. Para abocanhar o que quero, basta-me poder. Minha vontade é uma catapulta para me lançar aos objetivos, por mais altos que estejam. No entanto, também é capaz de me jogar de cara no chão, com força. Quando embarco no salto tenho apenas essas duas opções, certeiras e implacáveis. Não há sutilezas nos impulsos. E aqueles que não se cansam de voar e nem de cair têm um esteriótipo único: cara quebrada num corpo alado.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
CASCA GROSSA
O inverno seco deste planalto torna as coisas ainda menos lineares, com todos seus constrastes. O azul intenso do céu, a grama seca entre o concreto, o negro tortuoso das árvores do cerrado tocadas pelo fogo, e a surpresa dos ipês amarelos no meio de tudo.
O cerrado é sobrevivente. Resiste ao fogo com imponência. É forte em suas tortuosidades. Mais que desigual, é único. Solidão, distância, aspereza... conjunto, união incomum. Sua beleza é surpresa, privilégio de quem se aproxima...
terça-feira, 3 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
"Pouco rimo tanto com faz.
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimas, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós ríssemos,
se amar (rimar) fosse fácil.
Vida, coisa pra ser dita,
como é fita este fado que me mata.
Mal o digo, já meu siso se conflita
com a cisma que, infinita, me dilata".
Rimo logo ando com quando,
mirando menos com mais.
Rimo, rimas, miras, rimos,
como se todos rimássemos,
como se todos nós ríssemos,
se amar (rimar) fosse fácil.
Vida, coisa pra ser dita,
como é fita este fado que me mata.
Mal o digo, já meu siso se conflita
com a cisma que, infinita, me dilata".
[Ímpar ou Ímpar, Paulo Leminski]
domingo, 1 de agosto de 2010
PARA ATRAVESSAR AGOSTO
"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto (...). Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. (...). Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
(...)
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. (...). Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. (...). É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:."
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. (...). Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
(...)
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. (...). Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. (...). É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:."
[Caio Fernando Abreu]
Assinar:
Postagens (Atom)