SOMENTE SÓ
Sentou por perto. Preferiu o chão, ficar com as pernas suspensas entre a margem de concreto e a água turva do lago. Eu também quis tirar os pés do chão. Havia sentado sobre a mesa com as pernas cruzadas, como quem levita.
Tínhamos em comum apenas a solidão. Fazia parte da dele uma garrafa de cerveja... deve ter comprado num quiosque do parque. Sua roupa não combinava com uma tarde de domingo. Tão social e formal. Seja como for, ela não importava mais. Não ligou em sujar de terra a calça clara. Deve ter chegado de alguma obrigação.
Eu também não me importava. Meu mundo era apenas a música nos ouvidos e o ardente pôr-do-sol que acontecia. Não tinha a intenção de contemplá-lo hoje, quando sai de casa. Eu só queria correr, suar, respirar. Mas não hesitei em ficar quando vi o céu tão brilhante.
Ainda muitas pessoas conservam o costume bucólico de parar e esperar o tempo do crepúsculo. No local, havia famílias e casais, vários casais. Talvez por isso a chegada dele tenha me chamado a atenção. Não que a pluralidade dos outros me ofendesse, mas constatei que minha solidão não era solitária.
Solidão a gente até pode compartilhar. Não foi o caso, claro. Isso a gente divide com quem suporta o nosso silêncio. Com o dono dos olhos que sabemos encarar com conforto. Ou por quem nos sabemos olhados mesmo sem ver. Solidão compartilhada com estranhos geralmente é tão constrangedora que deixa de ser solidão.
Éramos dois sozinhos na solidão. Estranhos, incomuns, ninguéns. Mas soubemos que a solidão não era um privilégio ou um fardo exclusivo.
Tínhamos em comum apenas a solidão. Fazia parte da dele uma garrafa de cerveja... deve ter comprado num quiosque do parque. Sua roupa não combinava com uma tarde de domingo. Tão social e formal. Seja como for, ela não importava mais. Não ligou em sujar de terra a calça clara. Deve ter chegado de alguma obrigação.
Eu também não me importava. Meu mundo era apenas a música nos ouvidos e o ardente pôr-do-sol que acontecia. Não tinha a intenção de contemplá-lo hoje, quando sai de casa. Eu só queria correr, suar, respirar. Mas não hesitei em ficar quando vi o céu tão brilhante.
Ainda muitas pessoas conservam o costume bucólico de parar e esperar o tempo do crepúsculo. No local, havia famílias e casais, vários casais. Talvez por isso a chegada dele tenha me chamado a atenção. Não que a pluralidade dos outros me ofendesse, mas constatei que minha solidão não era solitária.
Solidão a gente até pode compartilhar. Não foi o caso, claro. Isso a gente divide com quem suporta o nosso silêncio. Com o dono dos olhos que sabemos encarar com conforto. Ou por quem nos sabemos olhados mesmo sem ver. Solidão compartilhada com estranhos geralmente é tão constrangedora que deixa de ser solidão.
Éramos dois sozinhos na solidão. Estranhos, incomuns, ninguéns. Mas soubemos que a solidão não era um privilégio ou um fardo exclusivo.
Um comentário:
Fantástico, Marina! Adorei!!!
Richardson.
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