sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ATO

Foi vista bebendo gin. Comprou o que restava da garrafa e depositou-se sem pressa no banco alto do lado de fora. O boteco não tinha o privilégio da esquina. Ficava entre lojas que só se revelam durante o dia. Sua solidão era dividida com a daqueles que há muito aceitaram sua perdição. Talvez uma puta e seu cliente na mesa ao lado. Martini e whisky barato. O cara do balcão deve ser viciado em crack em seu momento alcoólatra. Em pé, o velho é daqueles boêmios que viu as noites se transformarem com os anos... e a sujeira permanecer. Ela compunha o cenário destoante. Mas não julgou. Sequer notou.

Depois de esquecer, andou até aonde a música lhe puxou. Suou todas as suas lágrimas. Recompôs-se com a dose dupla de vodka com energético. A primeira foi quase toda para o corpo, literalmente. A segunda foi para a alma, caso houvesse alguma. Tirou a blusa e, do alto, dividiu o público com a dúzia de sedentos ao seu lado.

Conquistou um grupo gay do qual recebeu goles de água especialmente cristalizada. Então suou mais, e desceu mais... até um darkroom. Não havia lugar melhor para confrontar seus demônios do que no escuro, o que guarda seus medos. Delirou.
Quando emergiu, viu que na saída havia luz... Já? Que breve o breu.
Juntou-se, vestiu os óculos escuros, e partiu... Desde então, não foi mais vista.

O desamor encerra o encanto
Estava à procura disto quando desligou o telefone.
De encantar-se...

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