domingo, 31 de maio de 2009

"Aprendi a ser como a primavera, a me deixar cortar para voltar sempre inteira"
[Clarice Lispector]

sexta-feira, 29 de maio de 2009

IMPULSIVIDADE VICE-VERSA

o impulso
impulsiona
o pulo
acomete
o pulso
liberta
o silencio
ilumina
a alma
voa
as asas
impulsivamente

quarta-feira, 27 de maio de 2009

MEMÓRIAS DE UM FUTURO FICTÍCIO

Reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. O escuro da sala de cinema não seria suficiente para ofusca-los.

Após o filme desinteressante, levantei-me da cadeira assim que os créditos começaram a correr. Atitude reprovável a qualquer jornalista cultural, mas não estava ali para avaliar, anotar dados ou sondar uma provável pauta. Estava para passar o tempo daquela noite, fermentando a grande massa da indústria cultural.

Apesar de ter sentado na cadeira do canto, a mais próxima do corredor, buscava sentir-me, por momentos, mais uma cara sem identidade misturada a tantas outras, que perambulam pelos espaços públicos em pares, grupos ou unitárias, como num cardume. Ter cara de ninguém.

Havia tido poucas oportunidades de ser ninguém nos últimos tempos. Ultimamente só havia sido eu; eu colega de redação, eu que dirige mal, eu que não é daqui, eu do patins no parque, eu das amizades por perto e distantes, eu que desapareceu, eu das folgas junkies e plantões hardies, eu dos passos largos, eu contato no seu e-mail e número no seu celular, eu de tantas coisas e de tantos lugares, de tantos eus e tantos outros. Mas isso de ser ninguém, eu quis reexperimentar.

Parecia fácil nessa cidade de milhões de pessoas, naquele cinema atípico, numa sessão improvável. Mas eu reconheci aqueles olhos, que se esbarraram brutalmente com os meus na saída apressada da sala escura. Contrariadamente, eu não poderia mais ser ninguém. Era, inteiramente, o encontro com o eu e o outro do passado, com aquelas duas janelas que eu veria abertas em qualquer lugar.



Trabalho de André Dahmer. Retirado do Malvados

terça-feira, 26 de maio de 2009

DAS ILUSÕES PERDIDAS E PERDAS ILUDIDAS

Passamos a vida nos desfazendo de ilusões que adquirimos quando criança. Nunca nada se resolveu num "passe de mágica". Evite tantas fantasias para as crianças e tenha adultos melhores resolvidos.

Depois que percebemos que o mundo nunca pára, passamos a ter medo de parar também. Mas quanto mais ando, mais rápido o mundo parece girar... Por isso a pressa, a sensação de atraso.

Chega o dia em que você esquece a idade que tem. A pouco fiquei na dúvida se eu tenho 20 ou 21... Chequei no orkut. Talvez daqui pra frente seja sempre um ano a mais e pronto. Ou um a menos...

Não mata, mas pode machucar. A maioria das coisas da vida são assim... Mas parece que tudo passa. Pode demorar, mas passa. Ouvi dizer.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

20 COISAS QUE EU GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE

  • Acesso seu blog todos os dias na esperança de ler sobre algo que descobriu ou sentiu, mas 98% das vezes me deparo com o mesmo;
  • Penso em você muitas vezes por dia e sempre me pergunto se você faz o mesmo;
  • Na verdade, sempre acho que minhas atitudes, pensamentos e sentimentos não são recípocros;
  • Me encho muito de alegria quando você liga;
  • Eu choro lembrando de você, da gente;
  • Preciso muito de palavras e sempre sinto falta das suas, principalmente nesta distância em que palavras são um dos poucos meios de alcance;
  • Sempre fui um bocado imprudente com meus sentimentos, mas carrego o mínimo de auto-preservação. Poderia te amar muito mais se você deixasse;
  • Um dia quero ter metade da praticidade que você mostra ser dono. Parece ser mais fácil viver com ela;
  • Uma das suas coisas que me instigam é o mistério. Até hoje, tento descobrir, aos poucos, como passar da superfície dele. Parece impenetrável;
  • Acho você super particular. Apesar das intimidades, não me lembro de me sentir totalmente íntima a você;
  • Me apaixono cada vez que você me olha profundamente e levanta suas espessas sombrancelhas, com um sorriso contido nos lábios acompanhando. Quase sempre termina com sua mão na minha bochecha;
  • Choro sempre que lembro de cada uma dessas vezes, porque foram algumas das poucas ocasiões em que você disse que me amava, mesmo sem dizer;
  • Falando nisso, nunca esqueci dos seus olhos a quatro dedos de distância dos meus no dia em que te conheci;
  • Às vezes acho que você só me procurou por carência, outras vezes acho que você não sabe o que é isso, e em outras insisto em achar que você gostou mesmo de mim;
  • Só você me deixa cara a cara com minha melancolia;
  • Minha rotina complicou sem você;
  • Eu te amo e gostaria mesmo de não me importar que você quase nunca expresse isso dizendo ou pronunciando silenciosamente esta frase;
  • Imagino que você ache demonstrações de afeto bregas demais... ridículas, como "DRs" e esse post. Mas elas são deliciosas... Bom mesmo é não temer o ridículo.
  • Não me arrependo de nada em relação a nós, mas gostaria de ter passado o carnaval com você.
  • Minhas amigas acham que você não merece minha dedicação porque parece não corresponder suficientemente e dizem que estou cega e ilusionada de paixão. Seja isso ou não, as coisas que disse nos tópicos acima são o que penso, sinto e quis dizer... Antes de tudo sou fiel aos meus pensamentos e sentimentos.

TREMA ¨

O que me resta dos últimos dias são lapsos de memória.
Viver também é esquecer.

sábado, 23 de maio de 2009

ALLEGRETTE, MA NON TROPPO

Hoje é mais um daqueles dias em que tudo o que eu preciso é de um par de patins.
Meus pés ganhariam rodinhas e minha vontade de partir ganharia velocidade.
O vento entraria nos cabelos e o movimento na alma.
E no momento de velocidade, fuga, vento e movimento sobre rodas pairaria aquele perigo, aquele friozinho na barriga. Um risco gostoso de correr. A sensação livre de viver.

Viver é aprender a conviver consigo.

terça-feira, 19 de maio de 2009

P.Q.E.V.I.

Primeiro teste do Plano de Qualidade Emocional e Valorização do Indivíduo:
Invenção da Felicidade Independente

Definição: Sentimento de felicidade inabalável por segundos ou terceitos, sendo estes fatos ou pessoas;

Passo 1- Perder o medo de perder.

Estratégia de alcance:
Meditação para auto-convencimento
Experimento em situações de pouco risco. Elevar o risco na medida em que a segurança aumentar.

Ps. As estratégias ainda estão vagas pois trata-se de um experimento qua ainda não foi experimentado.

domingo, 17 de maio de 2009

DAS TENTATIVAS

Nos últimos tempos suas tentativas de curar a dor tem sido múltiplas.

Trabalho incessante, daqueles de fôlego único. Acorda mais cedo do que precisaria e dorme o quão tarde as produções exigirem. Come informações, solta informações, produz... "Ajuda a evitar pensamentos desnecessários", avalia. O cansaço é aliviado na noite que der. "Mas isto [cansaço] é uma sensação que inibe várias outras", pondera.

Depois da estratégia de desvio de foco, a busca pela anestesia é intensa.

Buscar vitórias em jogos de habilidade até a embriagues tirar tudo do foco, é um dos exemplos da mudança de estratégia. A embriagues, segundo Baudelaire, é a mais importante forma de anestesia e pode acontecer por vários artifícios.

Quando há tempo, o sono é uma forma de embriagues,anestesia, de inércia sentimental. "O sono é uma forma de anestesia muito vulnerável porque nele habitam os sonhos que não podemos controlar e nem interromper racionalmente. Só cometo [o sono] porque o físico exige mesmo", afirma.

Talvez por isso tenha apostado em outras válvulas de escape. Multiplas. Além de variáveis doses etílicas, exige densas doses de fumaça. "Com ela [fumaça] tudo fica confortavelmente em seu lugar e só se sente o prazeroso", diz. Às vezes a necessidade do conforto aparece e é saciada quase todos os dias da semana. Outras, se resume ao final de semana. "Final de semana é quando a dor mais dói", lamenta. Os dias que teoricamente são os mais prazerosos e libertários são, na verdade, onde as coisas ficaram mais fora do lugar.

"Nos finais de semana a casa sempre enche de gente com idéias cheias de energia que sabem me fazer companhia", lembra. O papo com outros é o único momento, por ser o mais seguro, para encarar as dores. Saber que todos tem as suas estimula o ânimo coletivo. Quando há fases de dores (a maioria das fases de nossas vidas, como afirmaria Schopenhauer) a animação é essencial. "Afinal, todas essas tentativas de cura nada mais são que alimento à força, esta que nos permite continuar em movimento. O importante é não parar", conclui ela, em um momento de embriagues.


"Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!"
[Raul Seixas]

sábado, 16 de maio de 2009

MAIS

"Que é que eu quero da vida?
Desta vida que me deu tanto.
Quero é mais. Mais vida.
Mais amor. Até mais dor.

Só aqui, nesta noite. Bebendo só,
Eu me pergunto: Que é que eu quero?
Acaso me pesa a liberdade de amar?
Quisera, talvez, um novo amor cabresto?

O certo é que algum medo me dá.
Um novo amor, em flor, nesta quadra.
Haverá, na vida, coisa melhor?
Sei não. Não sei viver sem amar."
[Darcy Ribeiro]

terça-feira, 12 de maio de 2009

Às vezes a vida cansa...
Mas é justamente nesses momentos que mais temos que nos mexer.
Foi isso que aprendi sobre não "deixar a peteca cair".
O essencial é que o movimento não pare.

domingo, 10 de maio de 2009

IDENTIFIQUE

Gosto de me identificar.
Adoro me identificar com as pessoas.
Uma tem o mesmo estilo de vida, a outra sente igual.
Aquela sonha o mesmo e essa te faz rir.
Cada qual com uma pequena particularidade que combina com a do outro... um pedacinho do que se é.
Este é o encontro com "o outro" que Fernando Sabino tanto fala. Encantador a identificação, o confronto. Assim cada qual se encontra no outro, se identifica e descobre sua própria identidade.
Não há autoconnhecimento maior que o obtido na convivencia. Nem mesmo o da solidão.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes."
[Adélia Prado]

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Esse outono é como minha saudade.

Traz noites frias que congelam a solidão,
dias úmidos que borram as lembranças,
fins de tarde que recordam com nostalgia
a melancolia da ausencia no passar do tempo...
E o amanhecer com cheiro de chuva
traz a afirmação de que tudo continua,
como uma garoa tênue e ininterrupta,
sempre e sempre
com a solidão, e as lembranças,
a melancolia, e a ausência,
no "excrucitante" passar do tempo...
Que
minha saudade não passa.

Gosto quando chove porque é como se o tempo tivesse tomado minhas dores e o céu as chorasse por mim.