sábado, 6 de junho de 2015

Nowhere. Now here.

Faz uma semana que entrei em meu novo lar. Um pequeno apartamento de um quarto, encontrado depois de muitas buscas. Entrei aqui cheia de sentimentos irradiantes, daqueles que nos alcançam quando nos deparamos com a liberdade diante de nós e reparamos como ela é linda e perigosa.

Até então, eu tinha surfado mais em sua beleza... mas hoje estou passeando pelos abismos que a liberdade proporciona. Eu tinha imaginado esses momentos antes de sair da zona onde estava desconfortavelmente acomodada... E foi a imaginação de instantes como esse que me fez pensar muitas vezes se valia a pena arriscar. "Tudo vale a pena se a alma não é pequena", disse Pessoa. Como sentia ter uma alma grande, mas oprimida numa situação que perdeu o sentido, resolvi abrir mão do que eu tinha.

Eu perdi a companhia de cama que me permitia dormir tranquilamente no escuro - eu tenho medo de dormir sozinha à noite com a luz acesa... com a luz apagada é impossível. Ninguém mais vai me acordar para coisa alguma. Seja para ir ao parque caminhar, ou para cumprir com alguma responsabilidade, ou para providenciar algo para comer e beber depois de uma noite de bebedeira.

Eu ganhei a chance de acordar quando e como bem entender. Ganhei a oportunidade de lidar com meus medos... e isso não tem sido um total desastre a partir do ponto de vista que estou sobrevivendo hehe. Mas simplesmente não tenho conseguido dormir antes das 4h da manhã. Tentei acordar cedo, mesmo tendo dormido pouco. Mas a verdade é que virei uma zumbi cafeinada, então preferi voltar a ser apenas uma notívaga, por enquanto. Eu ganhei também a oportunidade de planejar meus dias como eu bem quisesse. E é estranho quando temos o poder todo em nossas mãos, isso também dá medo.

Bom, a verdade é que personifico a corajosa, enquanto sou uma cheia de medos. Agora que escrevi, isso até faz sentido! O que mais eu poderia ser diante de tantos temores e fraquezas? Só sendo corajosa para viver. Já diria Guimarães Rosa: "o que ela [a vida] quer da gente é coragem".

Eu perdi muitas outras coisas, momentos, situações, status, dinâmica, rotina... perdi tudo o que não era somente meu. Me restou somente o que é meu e eu ainda não conheço a real dimensão disso. Acho que a missão de agora em diante é descobrir, escavar meu mundo interior e colocar as coisas no lugar. É um trabalho eterno, certamente, mas agora é como se fosse um novo começo. Agora, estou vendo toda essa bagunça onde consigo enxergar algumas coisas, imaginar outras e onde me perco e, no desespero, procuro uma saída, olhando para trás.

Escrever é como me centrar novamente, voltar aos eixos da razão e das emoções. E eu fiz isso tão pouco nos últimos tempos... Estava ocupada vivendo, sentindo, e não me preocupei em esclarecer, colocar as coisas em seus lugares. Isso foi um erro. Mas aquele tempo foi muito bom sim. Foi lindo, memorável, um amor sem precedentes (agora estou eu de novo com os olhos marejados). Chegamos às últimas consequências. Isso, um amor levado às últimas consequências. Sou muito, muito grata. E me entristeço porque acabou, não porque não tenho mais. Aquilo não existe mais, simples. Teve começo, meio e fim. E, apesar das coisas na vida serem assim, é impossível passar ilesa.

Acho que me concentrei tanto no lado positivo dessa mudança, que convenci a todos e quase me convenci, que tudo estava lindo. Só notei que as coisas não iam tão bem assim quando percebi que estava tomando banho raramente, que meu cabelo estava um lixo de oleoso, usava as mesmas roupas sempre, minha alimentação estava uma porcaria, minha cara cheia de espinhas, as unhas, sobrancelhas e depilação por fazer. Dai, para completar, dormi e sonhei que chorava até molhar meu apartamento todo. É, vi que não estava fácil. Bom, parte disso ainda é realidade, mas acho que começamos a mudar as coisas depois que percebemos.

Interessante que eu ainda me espanto como  a vida é um grande ciclo cheio de pequenos ciclos. De repente tudo estava no auge: apartamento encontrado, burocracias vencidas, a pós-graduação tão desejada que iniciou, o êxito no contato rotineiro com minha espiritualidade, pequenas realizações cotidianas como ir ao parque sozinha para deitar na toalha e ler um livro procrastinado, ou conseguir minar a vergonha de falar em público. Foi só notar que tudo estava indo para o infinito e além bem rápido que as coisas deram uma decaída. C'est la vie... ou "that's the way life goes", frase que minha "mãe" italiana-canadense deixou gravada em minha memória.

Enfim, isso tudo faz apenas uma semana, ou um pouco mais que isso. Mal posso esperar pelos próximos tempos. Venha o que precisar. Enquanto isso, vou aproveitar cada oportunidade para crescer. É um momento único para mim. Agora sou a Marina avulsa. E tenho a missão de permanecer assim por um bom tempo, resistindo às tentações de amar e me envolver com alguém de maneira tão profunda que faça nossas vidas se confundirem na mesma engrenagem que, de repente, pára de funcionar porque eu perdi meu "timing".

Agora, "alis volat propiis".

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