terça-feira, 14 de abril de 2009

UM DIÁRIO ou LIVRO DOS TEMPOS

A capa daquele caderno em brochura trazia escrito "Meu Diário" acima do desenho de uma linda princesa. Por algum tempo a menina de oito anos escreveu por suas páginas tudo o que tinha de mais importante para contar. Nada ali era segredo, mas a forma como escrevia era livre de qualquer pudor ou medo. Só ela leria.
Tempos e tempos passavam e chegavam e a garota continuava a escrever. Até hoje, quando a menina está mais para mulher. As páginas de lembranças foram conservadas e são relidas cada vez que o tempo novo a acomete a escrever. Esses momentos a cansa... É uma entrega muito grande.
Com o passar dos anos, esses "tempos em tempos" passou a significar um intervalo de pelo menos seis meses entre cada registro. E esse "Diário", que nunca teve uma periodicidade diária, passou a ter um caráter mais distante do nome que levava. Então ela decidiu mudar a capa.
Ali não se tratava de um diário, nem de uma princesa. Então a capa foi coberta sem remorso por um plástico preto, onde foi escrito em azul: Livro dos Tempos. Uma capa muito mais sincera.
Depois de mais de dez anos de histórias, as páginas do livro estão acabando. Algo muito angustiante. Como ainda deve haver muito mais vida a ser vivida, ela deve produzir um "volume II". Antes que as páginas acabem e deixem alguma história pela metade, ela pensa em ir em papelarias para encontrar um novo caderno em brochura, talvez com outra princesa e título clichê na capa. Não importa... Sempre se pode mudar a capa ou nome dado às coisas. Depende de quem nomeia e quando.
O atual título do caderno é válido. Realmente se trata de tempos. Mas ao ler cada tempo escrito se nota que eles trazem algo em comum, sempre: O amor.
O amor é trazido de várias maneiras de tempos em tempos. Às vezes muda o nome, muda a forma... Mas é amor, sempre belo em suas transformações. O verbo dos "tempos em tempos" dela é "amar"; e o de seu livro para com ela é "encantar".

"O encontrei na poesia. Depois ele veio até mim. Entrou em minha vida como se já soubesse o caminho. Falamos da vida, suas belezas, escolhas e dores. Nos beijamos. Me perdi em sua boca como quem estivesse em cada canto dela. Depois me encontrei em seus olhos, donos de um olhar calmo e real, revestidos por uns cílios longos, quase infantis. Ele me emociona". [Marina, outubro de 2008]

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