domingo, 12 de julho de 2009

A VIDA COMO FILME

"A vida é como um filme". Acabo de ouvir essa frase, a primera do filme que começou na TV. Me chamou a atenção pois, por várias vezes, pensei parecido . Em situações corriqueiras, me imaginei num filme, tragicômico, a maioria das vezes. Por exemplo, quando estava encrencada com o lead de uma matéria. Minha editora disse que deveria entregá-la em 40 minutos. Neste momento, imaginei uma câmera se aproximando e, num close fechado, se veria meus dentes cerrados, talvez uma gota de suor escorrendo - se não fosse o gelado ar-condionado da redação -, meus olhos olhando de um lado para o outro e, em seguida, meu pensamento "diria", em off: to ferrada.
Na verdade, além de "to ferrada", pensei que não conseguiria terminar no dead line estipulado, Assim que os 40 minutos passassem, teria que pedir, na cara de pau, mais meia hora. Também cogitei a possibilidade de ser acometida por uma habilidade surpresa. Superaria as espectativas.
Num filme não haveria escolha, e, como trata-se de uma personagem desesperada de tragédias cômicas, 30 segundos depois, a pretensa repórter teria sido atropelada pelos 40 minutos e por uma bronca da chefe. No entanto, na vida há possibilidades, inclusive, de mudar o gênero da trama.
"A vida é como uma história que a gente escreve. Eu não quero ser atriz, quero ser a personagem", disseram no filme. Estranhamente, a vida é menos óbvia que os filmes... Acho que é questão de continuidade. O tempo cinematográfico ultrapassa a velocidade dos acontecimentos. Na vida, não se pode pular acontecimentos, feitos de minuciosidades.
Aquela minha situação terminou de nenhuma maneira avassaladora. A chefe teve uma reunião no momento e acabei recebendo 20 minutos extras para terminar. São as casualidades da vida, onde revesamos com o destino a função de diretor e de roteirista. No caso, dirigi a situação que o destino escreveu. Em casos como quando prometemos começar uma dieta no dia seguinte, se no próximo set lá estivermos nós nos empanturrando de chocolate, a culpa será de nosso roteiro.
Há também os momentos de improviso, onde não há roteiro nem direção e toda a cena depende da habilidade do progonista. E esses momentos, talvez os mais marcantes da vida, jamais caberão na obviedade dos filmes.

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