domingo, 17 de maio de 2009

DAS TENTATIVAS

Nos últimos tempos suas tentativas de curar a dor tem sido múltiplas.

Trabalho incessante, daqueles de fôlego único. Acorda mais cedo do que precisaria e dorme o quão tarde as produções exigirem. Come informações, solta informações, produz... "Ajuda a evitar pensamentos desnecessários", avalia. O cansaço é aliviado na noite que der. "Mas isto [cansaço] é uma sensação que inibe várias outras", pondera.

Depois da estratégia de desvio de foco, a busca pela anestesia é intensa.

Buscar vitórias em jogos de habilidade até a embriagues tirar tudo do foco, é um dos exemplos da mudança de estratégia. A embriagues, segundo Baudelaire, é a mais importante forma de anestesia e pode acontecer por vários artifícios.

Quando há tempo, o sono é uma forma de embriagues,anestesia, de inércia sentimental. "O sono é uma forma de anestesia muito vulnerável porque nele habitam os sonhos que não podemos controlar e nem interromper racionalmente. Só cometo [o sono] porque o físico exige mesmo", afirma.

Talvez por isso tenha apostado em outras válvulas de escape. Multiplas. Além de variáveis doses etílicas, exige densas doses de fumaça. "Com ela [fumaça] tudo fica confortavelmente em seu lugar e só se sente o prazeroso", diz. Às vezes a necessidade do conforto aparece e é saciada quase todos os dias da semana. Outras, se resume ao final de semana. "Final de semana é quando a dor mais dói", lamenta. Os dias que teoricamente são os mais prazerosos e libertários são, na verdade, onde as coisas ficaram mais fora do lugar.

"Nos finais de semana a casa sempre enche de gente com idéias cheias de energia que sabem me fazer companhia", lembra. O papo com outros é o único momento, por ser o mais seguro, para encarar as dores. Saber que todos tem as suas estimula o ânimo coletivo. Quando há fases de dores (a maioria das fases de nossas vidas, como afirmaria Schopenhauer) a animação é essencial. "Afinal, todas essas tentativas de cura nada mais são que alimento à força, esta que nos permite continuar em movimento. O importante é não parar", conclui ela, em um momento de embriagues.


"Não pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!"
[Raul Seixas]

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