sexta-feira, 25 de julho de 2008

"(...)É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido. Quem não entende isso não entende nada.
(...)
- E a música? - desafiou.
- A música - o velho traçou com o dedo uma pausa no ar - é a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou do que não estou dizendo, pois é precido ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão o ar? A música é o silêncio em movimento.
- O mesmo com as palavras.
- Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio."
[O Encontro Marcado - Fernando Sabino]

Nenhum comentário: