segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ABERTURA

- O que será que anda passando por sua cabecinha, hein?
- Ah, por aqui estão passando aquelas quetões da alma, né... Estou me sentindo sozinha, por mais que a amizade não tenha faltado. Uma certa aflição... Veja, minha perna não pára de balançar.
- Isso é a sua ansiedade que saiu do controle novamente. Você é uma pessoa muito ansiosa e não sabe lidar com o que é normal, constante e rotineiro, lembra-se?!
- É verdade... Você havia dito. No entanto minha fase mais intensa e feliz aconteceu numa época em que a rotina fez parte da minha vida, né. Foi bem consistente. Você me fez constatar isso.
- Exatamente. E o que você pensa sobre isso?
- Acho que eu até gosto da rotina, desde que eu esteja completamente conquistada por ela. E acho que é disso que sinto falta: de uma rotina, das coisas em seus lugares.
- Qual rotina seria ideal agora?
- Eu queria acordar bem. Ir para minhas aulas da faculdade dia após dia ciente de que contente ou obrigada, só o tempo me trará o que busco nela. Queria almoçar sempre bem e, pelo menos de vez em quando, ter boa companhia. Depois trabalhar com o fulgor do qual sou acostumada. E, durante todas essas horas, ter meu "coração" feliz por ter em quem pensar e saber, mesmo que sem total certeza, que essa pessoa também pensa em mim. Quando o expediente terminasse, gostaria de nunca ter uma noite a esmo, a não ser quando ela viesse assim. Queria ter pra onde ir durante a noite e não utiliza-la para anoitecer meus sonhos, meus pensamentos e lamentos. Queria ter horários para cuidar do meu corpo... Me sinto tão bem quando ele aparenta assim. E quando chegar em casa, gostaria de ter para quem ligar, caso não me liguassem antes. Alguém para ouvir meus pensamentos e me contar. Ou quando desse, alguém para aparecer à noite aqui em casa e me levar para variar de cama. Acho que só queria alguém para não me deixar sofrer e para cuidar de maneira sinceramente recíproca. Falando nisso, queria planejar felicidade para os finais de semana e não apenas uma maneira de fugir da dor.
- Me parece que você está carente.
- Talvez eu esteja sim. Parece que dependo do outro para ser feliz, não é? E eu sempre odiei qualquer coisa referente à palavra "dependência". Mas eu preciso disso sim e acho que não consigo viver de outra forma que não seja um pouco regada de amor recíproco.
- Então temos um vício comportamental.
- Ok, eu sou viciada em amar. Dizem que o primeiro passo sempre é admitir. Mas isso tem cura? Se abstinência resolvesse, eu não estaria curada?

Um comentário:

Gláu disse...

Esse foi um diálogo nosso? Me identifiquei.